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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

FAREWELL

 

Depois de reler estes teus versos, Drummond, recordou-me assim, porventura, o escrito numa teia.

 

Quando as noites de novembro são eternidades nas tuas mãos de julho, eu quero dizer-te que é mentira estarmos sós, que te cerco de constelações atentas ao nascimento do teu sorrir, sem qualquer vírgula rastejante que do chão te possa alcançar e empatar um sol só teu, no apogeu do teu coração que pecou no crime que não perpetraste. E claro, amor meu, que na inocência dos sofrimentos nos tornamos tão vulneráveis que só mesmo cumprindo os ritos de existir se amará as imperfeições tanto quanto as maravilhas, e com gratidão, a ambas, em ti me sinto dividida, qual campo de batalha sem lado de vitória, mas lá onde me sinto que estou, podes crer, que te acolherei sempre, e sofro e sou feliz e reparto-me em pedacinhos tão pequeninos que logo nos teus olhos acolhes, enfim, a minha transcendência que afinal nada mais é do que eu inteira e única, na prisão do ar que ambos respiramos. E chega o momento de sermos pássaro livre, bem livre e tão livre que só a notícia o preserva. Chegou então o momento de fugirmos, um para o outro, suplicantes, evaporados, do pensar e do sentir, e assim sermos uma outra essência, num anel de beijos que as nossas bocas repetem e nele se fecham a conversarem promessas sobre universais assuntos. Então, as tuas noites de novembro, nas tuas mãos de julho, abrem-se para mim numa fotoviagem interior que entendo descendente de um sofrimento não revolucionário, mas atento ao rumo do mar, rumo sem uma ruga castrada, rumo tão só, alcançado sem opressões familiares ou outras do mundo ou até de nós mesmos, robustas todas em fervor e suor, país dentro do mundo e nele a rua da nossa casa, lá mesmo onde aceitamos as horas sendo ou não tempo – não importa – que o amor, segredo químico, é um tigre que se enrosca também em afagos e sendo tigre, é fera, é luta, é volúpia, imaginação longa e longe da nossa realidade e por isso é doer fundo pois que partimos, ficando, e é presente, quando ficando não estamos perto, e ambos signo da selva negra de gozo, muito gozo, triste também – caso exista - por tudo o que não pôde ser chorado do que já não lembramos mais, ou ainda nos deleitamos numa alquimia, logo celebrando a viagem funda, qual projeto interrompido – às vezes - e tu e eu rechaçando a inutilidade do nascer, fazemos da lição dos olhos nosso olhar, nosso resgate de noite amante - natureza, afinal, imperecível alegria, e enfim nos amamos quites de uma lei do esquecimento. Nós os inicialmente destinados, nus e tão nus de tão nus enquanto aos ouvidos um do outro, sussurramos: ó minh’alma, for this very love always both, will come back after all!

 

Uma origem o confiar-se; uma origem, o lance: farewell!

 

Teresa Bracinha Vieira