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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

TRINTA CLÁSSICOS DAS LETRAS

 

"OS IRMÃOS KARAMÁZOV" (X)

 

«Os Irmãos Karamázov é, segundo Freud, o romance mais magistral que alguma vez se escreveu, e nunca seremos capazes de apreciar devidamente o episódio do Grande Inquisidor, que é uma das maiores realizações da literatura mundial». Aliocha, Dmítri e Ivan são os irmãos Karamázov. E nesta narrativa polifónica, Fiódor Dostoiévski (1821-1881) busca a essência da natureza humana "capaz de conter todo o género de contrários e contemplar de uma só vez ambos os abismos, o abismo de cima, o dos ideais superiores, e o abismo de baixo, o da mais ignóbil e abjeta queda" - como é dito no julgamento nas páginas finais da obra. Pouco antes de começar a escrever sua obra-prima, em fevereiro de 1878, Dostoiévski aceitou o convite do czar Alexandre II para ser tutor informal dos seus filhos mais novos, Sergei e Paulo, e em maio de 1878 sofre o drama da morte de seu filho Aleksei (Aliosha). Os Irmãos Karamazov começaram a ser escritos em abril de 1878 e a publicação da primeira parte ocorreu em fevereiro de 1879 na revista “O Mensageiro Russo”, com sucesso imediato Em 7 de novembro, foi terminada a segunda parte, sendo publicada a obra em dois volumes, logo com grande êxito. São desse período o atentado contra o czar Alexandre II por Alexandre Soloviev de 1879 e o célebre discurso de Dostoiévski na inauguração do monumento a Alexandre Pushkin… O romance desenvolve-se em torno de uma família cujo pai é um palhaço profissional com uma vida devassa. Numa querela patrimonial entre o pai e o primogênito, envolvendo também a disputa por uma mulher, dá-se o momento trágico do parricídio, o filho mata Fiódor Pavlovitch Karamázov. Mas, o coração de Os Irmãos Karamázov não é a morte do pai, é o monólogo de Ivan sobre o Grande Inquisidor, onde o escritor põe a sua fundamental interrogação. Esse poema passa-se na Sevilha do século XVI. Cristo regressou à terra e está nas mãos do Inquisidor, que o reconheceu e mandou prender. E é o Inquisidor quem fala: “Não estamos contigo mas com Deus, eis o nosso segredo! Há muito que não estamos contigo, mas com Ele (…) Fica sabendo que também eu estive no deserto, me alimentei de gafanhotos e raízes, que também eu abençoei a liberdade com que abençoaste as pessoas (…). Mas caí em mim e não quis servir a loucura. Voltei e juntei-me à legião daqueles que corrigiram a Tua Obra. (…) Se alguma vez existiu alguém que mais merecesse a nossa fogueira, esse alguém és Tu. Amanhã queimar-Te-ei.". Aliocha contesta que o Inquisidor represente esse mundo. E responde a Ivan: "Isso é Roma, e nem sequer toda a Roma". Mas Ivan faz um retrato implacável da Igreja Católica Romana, por oposição a um cristianismo em que o verdadeiro amor do outro é possível. A cena do Grande Inquisidor é apenas uma das muitas em que Aliocha é confrontado com os demónios, como acontece no diálogo com Lisa: "Não quero fazer o bem, quero fazer o mal, e nisso não há doença nenhuma”. A busca do “homem no homem” é o objetivo essencial do genial autor russo e a síntese dessa busca está neste verdadeiro livro-testamento. A procura do "homem no homem" significa a consideração da importância fundamental do outro e da relação que permite dizer ao nosso próximo "tu és". E este reconhecimento do outro como o complemento natural de nós mesmos representa a consideração de que a existência do outro é vivida por mim como a outra parte do eu, sem a qual estarei incompleto – se tu és, logo eu sou.

 

Agostinho de Morais

NOVAS EVOCAÇÕES DO TEATRO ROMANO DE LISBOA

 

Há cerca de 5 anos, evocámos aqui o Teatro Romano de Lisboa. Ocorre que a “redescoberta” das ruínas aliás consideráveis do espaço arquitetónico ou que o que dele restava na época, e que não era pouco, ocorre em 1798: sendo certo que os trabalhos de recuperação e sobretudo de reaproveitamento cultural e de espetáculo verificaram-se séculos decorridos e atingem hoje uma expressão considerável de relevância, tanto no ponto de vista da arqueologia arquitetónica como da atividade museológica e de espetáculo entretanto decorrente.

 

Nesse sentido há que assinalar a edição/reedição de estudos que abordam o tema, estudos esse editados pela EGEAC, entidade da CML que gere o espaço histórico.

 

Citamos designadamente dois livros como dissemos ditados pela EGEAC:

 

“Dissertação Critico-Filológico-Histórica” de Luiz António de Azevedo, edição fac-similada do estudo publicado em 1815 e agora reeditado com um Prefácio de Lídia Fernandes.

 

“Saudades da Rua da Saudade – O Teatro Romano e a sua Envolvente nas Memórias da Cidade”, textos da autoria de Joana Gomes Cardoso, Joana de Sousa Monteiro, Lídia Fernandes, Carolina Grilo, Daniela Araújo, Rui Coelho, Ana Cosme, Rani Almeida, Maria Miguel Lucas, Miguel Coelho.

 

A bibliografia sobre o tema é vasta. Pessoalmente abordei-o    em “Teatros de Portugal” e em textos aqui mesmo divulgados como o artigo datado de 15 de abril de 2014, sob o título de “Teatro Romano de Lisboa – Felicitas Iulia Olissipo”.

 

Aí cito designadamente o estudo de Lídia Fernandes, onde se esclarece que “os elementos arquitetónicos com revestimento a estuque, as características técnicas do edifício e o emprego da ordem jónica, são alguns dos elementos que nos apontam o início da sua construção para uma época recuada”. E acrescenta que o teatro sofreu “uma fase de remodelação, levada a cabo em meados do século I, concretamente 27 d. C.”.     

 

O teatro terá sido abandonado cerca do século VI e sacrificado e soterrado em fases sucessivas da expansão da cidade medieval. Mas o terramoto de 1755 põe as ruínas parcialmente a descoberto. São reconstituídas numa gravura de Francisco Fabri. Em 1815 Luis António de Azevedo publica uma reconstituição do proscénio.

 

Mais se desenvolve o texto, que cita como bibliografia obras diversas de Lídia Fernandes, Aarão de Lacerda, Irisalva Moita, Carlos Fabião, Jorge Alarcão.

 

E no livro acima citado “Saudades da Rua da Saudade” Lídia Fernandes historia a própria criação do Museu e as intervenções que, até 2001, marcaram a recuperação do edifício transformado em Museu, bem como sucessivos trabalhos efetuados neste singular monumento da cidade.

 

Retomaremos o tema em crónicas destinadas a evocar os dois livros recentes.

 

DUARTE IVO CRUZ