Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO

gilbertofreyre.jpg

 

LV - GILBERTO FREYRE

 

Defende Gilberto Freyre estar dentro da tradição portuguesa do Brasil, como no Oriente e em África, a tendência de assimilação de outros elementos, mesmo se estranhos.

Exemplifica-o com o português (idioma) tido como o primado número um da cultura de origem maioritariamente portuguesa no Brasil, falando de uma língua portuguesa enriquecida e mestiça, por aquilo que já assimilou do indígena, do africano, do holandês, do castelhano, do francês, do inglês, a qual não deve significar nunca uma exclusividade purista contrária, per si, à lusa tradição de assimilação. Assimilação sem violência, atenta a oportunidade que sempre, ou quase sempre, lhes tem dado de se exprimirem, de modo a que se faça docemente e por interpenetração.

Transportando tal capacidade de adaptação e assimilação do idioma e tradição portuguesa para o Brasil, defende que a tradição brasileira pode enriquecer-se, e muito, no contacto com as culturas levadas pelos imigrantes alemães, espanhóis, húngaros, italianos, japoneses, judeus, poloneses, entre outros.

Escreve, a propósito:
“De modo nenhum me parece que idiomas com o rico conteúdo cultural do alemão ou do italiano devam ser desprezados ou combatidos como inimigos pela gente brasileira. …devem ser aceites como estímulos ao nosso progresso cultural. Mas nunca, é claro, ao ponto de qualquer dos dois - o idioma alemão ou italiano - tomar, em qualquer regia, o lugar da língua tradicional, essencial, nacional que é a portuguesa. Esta que se enriqueça de germanismos e italianismos, como já se enriqueceu de indianismos, de africanismos, galicismos, mas continuando, na sua estrutura e nas suas condições de desenvolvimento, a língua portuguesa e a língua de todo o Brasil. A língua, também, desse conjunto transnacional de calores de cultura que é o mundo de formação lusitana” (“O Mundo que o Português Criou”, Prefácio).

Pluralidade de cultura sim, dentro do primado da cultura de origem predominantemente portuguesa e cristã, não renegando o critério histórico de formação luso-brasileira, pelo que o que for hostil a essa formação é contrário aos interesses do Brasil.
Assim, embora o Brasil deva defender e preservar a sua tradicional cultura luso-brasileira, não deve fechar-se nela, antes sim defendê-la, desenvolvendo-a.

Afirma que a língua portuguesa se vem destacando “(…) cada vez mais das línguas simplesmente neolatinas, pela crescente tropicalização das suas vozes, dos seus sons, do seu modo de corresponder a estilos e a conveniências de populações de várias origens, etnias e culturas, integradas em países quentes, dentro das normas de interpenetração ou de tolerância que tornam possível uma pax lusitana, diferente da romana e principalmente da britânica” (“O Luso e o Trópico”).

São seus exemplos palavras como amorenar, bronzear, banzar, xingar, cucutar, sol tropical, sol do trópico, num “português com açúcar” (ou chocolate?) de sotaque e pronúncia brasileira nas suas vozes e sons tropicais.

Trata-se de uma conceção pioneira em que as áreas culturais viriam a ter uma importância crescente no século atual, representando o luso-tropicalismo uma antecipação da lusofonia ou comunidade lusófona, institucionalizada através da CPLP, uma realidade plural em que a comunidade internacional está identificada.

 

06.09.2019
Joaquim Miguel de Morgado Patrício