Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
“I've lived a life that's full I've traveled each and every highway But more, much more than this I did it my way”
Vivi uma vida cheia Viajei por todas as auto-estradas Mas mais, mais do que isso Fi-lo à minha maneira
e omitiu de propósito
And now, the end is near And so i face the final curtain
Agora, que o fim está perto E que enfrento a cortina final
Não o fez por esquecimento - escreveu-se - mas, certamente, para evitar a exposição pública de constrangimentos da plateia de amigos que assistia ao lançamento do seu último livro no Centro Cultural de Belém.
As feiras de outras vaidades deixou pelo caminho na hora certa. A poesia, soube-o a tempo, foi a virtude reencontrada.
É necessário, digo, o respeito pela cedência da força face à doçura. Por aí o reencontro com a delicadeza em que se faz saber a nós mesmos que o domínio do nosso sentir só se faz no sentido íntimo do outro. É o único progresso que nos humaniza porquanto por aí se partilham as solidões e as poeiras da vida.
O amor como todos os sentires, abre fendas, e a ideia de um recomeço implica sempre a sua transformação numa associação, enfim, será quando um género de fraternidade das armas da política, da economia, da justiça, dos estatutos, dos compromissos, da pobreza, fica desamparado pois dele em nós, não se exigiu o suficiente e chegou a nossa partida!
Já não é possível recomeçar-se mesmo que se recusem falhas, fazê-lo teria sido o segredo maior da coragem, a adesão da inteligência à verdade. Diria mesmo que para a abordagem da razão, talvez nem uma alma de criança baste; tudo é embrionário no fim. Sentiremos então que encontraremos tudo pelo deslumbramento das fronteiras que afinal se não traçam?
Se assim for, o amor venceu a morte e esta é doravante oferecida numa participação eterna na vida.
Se assim for, não há justiças compensadoras noutros locais que não aqui. A paz no mundo tem este preço, bem-haja quem teve no coração uma moral que soube o quanto a equidade respeita a dignidade humana e se funda numa sociedade livre.
Manoel de Oliveira a imagem exata por palavras de Agustina: não se começa outra vida. Matamos e morremos, é sempre o mesmo. (…) Para quê tanto sofrimento? (…) Uma família feliz e pronto. Não posso ver esse desespero só por causa de dez mandamentos do tempo dos profetas maníacos.
Não chega a todas as suas consequências quem não se deixou apaixonar ou quem desse sentir esteve ausente. Também não chega a todas as suas consequências quem em si não desenhou esmeradamente o estado de amante. Nestas duas situações há desespero que em cada uma faz estação própria e em cada uma o amor não chega para assumir todas as consequências. Resta tantas vezes um cerimonial sem grande heroicidade. Resta uma espécie de discurso e gesto em volta do amor como um colar de pérolas ágil no segurar-se angélico em volta da garganta. O que reina são os mistérios e as propostas do corpo para possuir o que se ama. O entendimento, esse, tem a poesia onde se deita e dela faz pele e afinal onde busca também os diálogos que existem de coração a coração em palavras que muito assombram o que está seguro e não acontece, ou, o que acontece, pois que a segurança pode não ter sido fruto nem semente para nada e de repente abre-se larga qual fruteira sabiamente ideia, prata e cristal proposta num centro de mesa onde tudo se permite.
E o filme PARTY de Manoel de Oliveira pelo livro de 90 páginas PARTY Garden-Party dos Açores da extraordinária Agustina Bessa-Luís ou assim se não entendesse S. Miguel
Miguel
Leonor está encantadora!
Rogério
(…) Por falar nisso: a sua saia é indecente, sabia?
Leonor
(…) O primeiro que a achar indecente vai dizer-me que estou encantadora.
Rogério
Querida amiga!
Irene
(…) As mulheres eram enfadonhas, agora são de uma vulgaridade horrível. (…) Uma mulher encantadora está perto de ser recordada pelas fotografias de férias. Para começar, você faz dez anos de casada (…) É uma idade rupestre
Leonor
Está gravada a cem metros de profundidade.
Miguel
Como faz para respirar?
Leonor
Não sei. Essas coisas não se chegam a saber.
Alguém
Em S. Miguel existem armários fechados há seculos pela força da insularidade. Guardam neles coisas impalpáveis que sempre forçaram as portas desses armários, mas nunca o suficiente para se exporem. Sabiam que bastava ser percetível a força, e que as portas, se se abrissem expunham ao lado dos beijos apaixonados, os mortos em jeito de bolas de naftalina e haveria sempre um cabide vazio. Entendes Mafalda? Um cabide vazio. Aquele das camisas de noite de tão belas não estreadas: aquele dos jardineiros que labutam sementes transparentes; aquele que apanhou palavras de passagem e que passaram a ter o destino de serem versos cristalinos e à espreita; aquele que de tão vazio se chamava oportunidade disponível que se não conforma; aquele que te pica a mão para que num apesar de tudo saibas que a seiva é ascendente.
Irene
As viagens cortam o apetite. São como o tabaco. (…) Quilómetros de gares e de escadas rolantes. Bagagens, horários (…) a que nos leva tudo isto?
Miguel
É simples potencialidade isso de viajar. É como o amor.
Leonor
Não fale nessas coisas. Estamos num terreno vulcânico, além disso…
Miguel
Os segredos são tão subtis, que podemos falar deles sem os revelar.
Leonor
Acredita que já não sabem tudo sobre nós muito melhor do que nós?
Irene
(…) o carro é grande, sempre cabe mais um. E na cama também.
Miguel
Está a querer fazer do amor uma ligação. Eu tenho uma ligação com esta senhora. Consigo é diferente.
Alguém
Mafalda que por toda a parte será finitude mesmo que digam que isto ou aquilo é teu, mesmo que isto ou aquilo envolva a lembrança das tuas ligações influenciadas por tudo quanto te inovava. Acho estranho contar-te assim uma versão do filme PARTY. Não sei se te disse que até já pensei noutros tempos vir viver para os Açores? Ah! Disse? Pois antes reli sempre este livro da Augustina e acreditei numa próxima ocasião, logo após a prova do deitar. Esta prova foi sempre em mim uma visita à cave da minha vida, da vida que também te servi pois outra me era estranha. Mafalda sei que entendes que as distancias são iguais quando da lareira a madeira cheira a verde. Vá deita aqui a cabeça no meu colo. Vá tapa-te que a manta é terna, o Pico aguarda-nos e nele continuaremos o filme PARTY numa quietude Mafalda, numa quietude tão funda que o tempo já não me perguntará «quanto tempo ainda?». E depois do teu sono te direi como me sinto livre como as aves prontas a serem abatidas. Dir-te-ei também alguma coisa sobre o meu perder-me com determinação, com a minha consequência, e tu, encantadora, ouvirás que o és pela primavera e pelo outono do amor de uma qualquer rupestre idade que ele tenha. Vá tenta compreender e verás o que acontece. Ama o teu homem e arranca-o desta ilha, leva-o, manda-o para Nova Iorque, sei lá!