CADA ROCA COM SEU FUSO...
HELENA CORRÊA DE BARROS (1910-2000)
Helena Corrêa de Barros (1910-2000) foi uma fotógrafa amadora e uma viajante incansável, sempre acompanhada pela extraordinária máquina fotográfica. As suas imagens revelam um olhar inovador através de diapositivos a cores e fotografias a preto e branco, algumas das quais apresentadas em exposições e concursos de fotografia, na década de 1950. Como afirma a artista: «Desde pequena que a fotografia foi para mim o passatempo mais agradável. Nunca fiz nenhuma viagem sem levar a máquina comigo e, muitas vezes, o prazer maior era o de poder tirar fotografias: se, por qualquer motivo, me não era possível fazê-lo, o passeio não tinha para mim o mesmo encanto. (...)». A Exposição da obra da inesperada artista encontra-se no Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, na Rua da Palma 246, em Lisboa, e constitui uma oportunidade única, não apenas para usufruirmos de fotografias de rara beleza, mas também para termos contacto com o Portugal dos anos cinquenta e sessenta nas mais diversas facetas. A fragata do Tejo com que iniciamos esta viagem constitui um exemplo de talento e sensibilidade, relativamente a quem nos lega esta preciosidade. Um conjunto extraordinário de imagens faz parte do que se designou, com felicidade, de “minha viagem preferida”. Longe da doentia tentação, hoje comum, de fixar imagem ao acaso, ou de confundir a vida ou a realidade com a sua imagem, Helena Corrêa de Barros usa a fotografia para se exprimir artística e pessoalmente. É a sua arte, que aqui se encontra, e se dúvidas houvesse, esta fragata é a demonstração de como a máquina só faz aquilo que o artista pretende, ou não fosse a fotógrafa uma conhecedora profunda dos melhores artistas, nos diversos domínios. O preto e branco e a cor são usados com fantástico critério. Os temas permitem conhecermos o Portugal de há mais de cinquenta anos, desde os amigos da artista e do seu meio, até ao país profundo. Pedro Mexia falou da fotografia como Autobiografia, Documento e Passatempo. É disso que se trata. Há um ambiente “habitualmente feliz”, uma placidez que leva à nostalgia. Mas há mais do que isso, e por baixo desse brilho, há a realidade. Não se trata de idealizar, mas de compreender e de trazer até nós outro tempo. Que é representar a vida, senão vê-la tal como ela é, vivida diversamente por todos? Se muitas vezes conhecemos a faceta oficial das imagens, aqui a fotografia a preto e branco e a pelicula “Kodachrome” dão-nos a vida nos tons diferentes que ela tem… Leia-se “O Delfim” do José Cardoso Pires e faça-se passar esta série de fotografias… Percebemos que há um pano de fundo e uma representação em que a naturalidade desempenha o seu papel… Helena Corrêa de Barros é uma bela surpresa, a não perder a sua obra…
Agostinho de Morais