UM FILME SOBRE SOPHIA
Muito recentemente evocamos aqui Sophia de Mello Breyner Andresen, a propósito designadamente do Colóquio realizado na Fundação Calouste Gulbenkian por iniciativa da Fundação e do Centro Nacional de Cultura. Assinala-se o centenário da escritora, e os artigos que então publicamos, na sequência aliás de textos já antes divulgados, contêm uma visão pessoal da figura e da obra da escritora. Mais do que isso, constituem de certo modo uma síntese do Colóquio que reuniu para cima de 30 comunicações, inaugurado por Guilherme d´Oliveira Martins.
Precisamente, referimos hoje o vasto programa que ao longo do ano evocará Sophia, em colóquios, exposições, debates e até num concerto evocativo no Teatro Nacional de São Carlos. De tudo isso se irá dando noticia. E mais se evoca o depoimento de Miguel Sousa Tavares sobre Sophia, sua mãe, publicado no Diário de Notícias e que constitui uma impressionante evocação pessoal-familiar.
Mas hoje fazemos referência ao filme-documentário do Manuel Mozos, intitulado precisamente “Sophia na Primeira Pessoa” exibido na Culturgest para estudantes e no Cinema São Jorge para o público em geral. Não vamos fazer crítica cinematográfica, note-se bem, mas sobretudo dar uma opinião sobre a visão do conteúdo respetivo na abordagem da vida, obra e espólio cultural abordado e divulgado.
E nesse aspeto, há que referir a qualidade do filme em si mesmo, e o interesse do debate que se seguiu à exibição. Desde logo, porque deu gosto ver a sala cheia e sentir o interesse do público. E para além disso, há que ressaltar a sequência de depoimentos de Sophia, recolhidos em sucessivas intervenções e entrevistas, filmadas e gravadas ao longo da vida da escritora.
Salientamos que esse conjunto de depoimentos documenta a qualidade, inteligência, perspicácia, cultura e sensibilidade de Sophia, e isto ao longo de dezenas de anos e nas mais variadas circunstâncias.
E deve-se referir então a recuperação dos documentos, sobretudo tendo em vista o interesse e modernidade dessas sucessivas intervenções: todas revelam, da parte de Sophia, atualidade e sentido crítico que abrange um universo da cultura, na época e hoje.
E nesse aspeto, há que elogiar e muito o programa das comemorações do centenário. Envolvem um concerto no Teatro de São Carlos, exposições de fotografias no Centro Cultural de Lagos e no Quartel do Carmo em Lisboa, ciclos de conferências no Porto e novamente em Lisboa: alem da inauguração de um Projeto de Intervenção Artística Sophia/Menez, envolvendo a produção e execução de um monumento designado “Espaço Entre a Palavra e a Cor”, da Galeria Ratton, em colaboração com a Câmara Municipal de Lisboa.
Acompanharemos este programa.
DUARTE IVO CRUZ