A FORÇA DO ATO CRIADOR
‘Belbo’ de Caragh Thuring.
‘These paintings are a result of what I couldn’t do, in a way.’, Caragh Thuring
A pintura de Caragh Thuring (1972) é espaço aberto, é espaço livre. É plano imaginário, imenso e necessário.
Para o ser humano, existe desde sempre, o desejo de que tudo tem de estar completo, seguro, acabado, no lugar, de alguma maneira sob controlo. Porém as pinturas de Caragh Thuring contrariam este anseio, porque são propositadamente incompletas, imperfeitas, cruas, inseguras, como uma constante procura, onde nada está onde deveria estar. A mensagem é subjetiva, não é entendida no imediato, não é clara, nem determinada a impor uma só interpretação. Ao utilizar uma linguagem muito económica, Thuring elimina o desnecessário e tenta salvar, nem que seja, só uma fração de verdade pura.
‘Belbo’ (2014) é uma pintura que resulta de uma experiência muito pessoal do mundo, em relação a estruturas urbanas, a coisas e aos outros. É como um filtro, determinado pelos interesses e pela vida do sujeito que cria. E ‘Belbo’ refere-se às janelas holandesas que são como telas reveladoras. As janelas abrem assim e expõe o espaço privado no espaço público. E por isso o dentro e o fora dissolve-se um no outro.
‘(Painting) is about accepting that embarrassment of not having this perfect resolution, this perfect thing (...) You start with this fancy, and then all just falls apart, and you end up with something else. You just have to take the risk, and that’s why I don’t spend hours labouring over. (...) I get to the point that I know what I am thinking I’m going to do now and just start and hopefully something happens. But it always moves away from the absolute intention from the beginning. But then you get new intentions.’, Caragh Thuring
Em ‘Belbo’ Thuring desfaz qualquer domínio que uma pintura poderá ter. Ao usar linho cru, sem qualquer primário, revela-se todo o pensamento, todo o processo, todo o instinto e todas as falhas e erros inerentes à pintura. É como um desenho, como uma aguarela. Não dá para voltar a fazer, porque o que está lá é o que fica. Nada está sob controlo, nada está sob uma ideia perfeita e fixa. O resultado não é perfeito, nem é o resultado esperado. Thuring diz que alguns trabalhos demoram horas a fazer, outros demoram muitos meses a terminar, mas todos incluem anos acumulados de pensamentos.
‘They are more like drawings, a sort of an economy. They are all wrong, they are all failures in that sense or more or less successful. Everything leads on to the next thing. So they are all preparatory sketches. You don’t ever want to arrive anywhere.’, Caragh Thuring
As pinturas de Caragh Thuring são fragmentos de tempo, são elementos partidos, são simplesmente aquilo que está ali à vista e à mostra. São pinturas que se vão completando umas às outras. O que conta é o prazer de fazer. O objetivo não é simplesmente executar uma pintura bem sucedida. Só no ato físico de pintar se obtêm respostas, só no ato de pintar se sabe o que se vai pintar e como. O processo de fazer traz consigo a vontade de fazer mais pinturas.
Por natureza, a pintura é plana, mas Caragh Thuring consegue dar espaço aquele que vê, espaço para interpretar. As suas pinturas não mostram tudo e nem oferecem respostas. O reconhecimento, do que se apresenta na tela, não é imediato. A imagem pintada nem sempre apresenta o que o intérprete quer ou deseja, antes exige generosidade e disponibilidade. Cabe ao fruidor completar ou estabelecer um diálogo com a pintura à sua maneira.
‘Painting is not something to talk about. It is something to look at and then you can talk about all sorts of other things.’, Caragh Thuring
Ana Ruepp