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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO

Aldeia de Monsanto, em Idanha-a-Nova

 

LVI - DO BIOLÓGICO E HERDADO AO APRENDIDO E DESEJADO (I)

A narrativa contemplativa da língua como simples marca de identidade, potencia um discurso atraente, quando não excessivo, associado ao biológico, ao sangue, ao não escolhido, ao não pensado, às origens, patriotismos, raízes, terra e território.

Embora relevante expressar-se a língua como signo de identidade, é redutor sacralizá-la, só ou preferencialmente, em redor de ideias conservacionistas ou teorias de salvação nacional, onde predomina a defesa do já conhecido, tido como um dado adquirido.

A língua apenas como símbolo e marca de identidade, pode ser um elemento dissuasivo para a sua aprendizagem e promoção, podendo levar ao culto da sua confidencialidade e posse, inverso à regra de que a língua pertence a quem a fala.

A teoria da língua indígena, de que as línguas se transmitem por via biológica, de pais para filhos, apela a valores tradicionais, entre eles a identidade linguística, a linguagem oral, a ascendência (jus sanguinis), o território de origem (jus solis) e a cidadania originária, apelando ao culto confidencial da língua.

Em desfavor do uso confidencial da língua são feitas usualmente duas observações: o sentimento de posse de um bem de que se julga ser o único possuidor; o ocultar dos ouvidos dos outros algo pelo qual não queremos ser identificados.

Na primeira situação, há o uso, gozo e fruição de um bem que temos como nosso e que não queremos dar a conhecer, havendo uma comunidade, um povo, uma sociedade, um país de falantes que se tem como dono de uma língua, que se transmite por herança biológica, como algo de que não abdicamos, numa atitude que pode ir da jactância, soberba ou superioridade linguística, à manutenção da nossa privacidade.

Na segunda situação, ao esconder e guardar a confidencialidade de uma língua dos outros, ao não querermos ser identificados usando-a publicamente, estamos em presença de um idioma que comporta como carga negativa e uma baixa consideração social pelos seus próprios falantes, não a considerando em igualdade de estatuto com outros, na sua perspetiva mais negativa.

 

03.01.2019
Joaquim Miguel de Morgado Patrício