CRÓNICAS PLURICULTURAIS
35. ARRUMAR E DESARRUMAR O INFINITO
Há quem por mais arrumado que seja está sempre descontente e pronto a arrumar.
Há quem por mais desarrumado que seja está sempre insatisfeito e pronto a desarrumar.
Arruma-se a confusão e o caos.
Desarruma-se a arrumação e a ordem.
Há o desarrumar já arrumado, desarrumando e arrumando.
Como desarrumar livros já arrumados, deslocalizando-os e arrumando-os.
Tenta-se arrumar o caos, o infinito, organizando-o, tornando-o finito.
Entre arrumar e desarrumar, investe-se energia na arrumação e desarrumação.
É um sem-fim de liberdade ilimitada, assegurando-nos que cada dia é igual e diferente de todos, alinhando-o e organizando-o na nossa finitude e infindável caos.
Há um sentido apreensível comum por todos?
Aquilo que para uns é ordem e perfeição (arrumação), para outros é confusão e imperfeição (desarrumação).
Há apenas tentativas de organização arrumando a casa, dentro dela os móveis, os livros e demais objetos, tal como se tenta organizar a vida no seu todo, numa amplidão e vastidão que nos condiciona via indeterminismo, do mesmo modo que o universo e o infinito, sabendo antecipadamente que nunca conseguiremos arrumá-lo.
Entre a difícil tarefa de arrumação e desarrumação do infinito, persiste sempre o seu indeterminismo ilimitado, a nossa imperfeição, na sua permanente desarrumação e arrumação em constante liberdade.
24.01.2020
Joaquim Miguel de Morgado Patrício