CRÓNICAS PLURICULTURAIS
36. A EXIGUIDADE DAS COISAS MUNDANAS DIANTE DA ETERNIDADE
No Convento da Madre de Deus, em Lisboa, numa tumba rasa de despercebida e desnuda pedra, num local de passagem, para que todos a pisem, jaz D. Leonor de Avis, rainha de Portugal, mulher de D. João II.
Comove e surpreende este gesto de humildade, despojamento e simplicidade.
Sempre me impressionou e sensibilizou como passeante e visitante daquele espaço.
O que memorizo quando confrontado mentalmente com a vida e legado de quem ali foi sepultada, por vontade própria, naquelas condições.
Lembrando às gerações vindouras que por ali passam que é efémero e fugaz o poder e a vaidade humana, diante da eternidade.
Figura marcante e sempre atual da nossa história, como criadora, impulsionadora e executora de uma instituição que se universalizou, perdura e prospera na Europa, África, Ásia e Américas, desde o Brasil a Macau, há centenas de anos, via Santa Casa da Misericórdia.
Os deveres desta irmandade da caridade eram descritos, à data, como sendo sete obras espirituais e corporais, sendo célebres e populares, até hoje, as últimas:
1. Dar de comer a quem tem fome;
2. Dar de beber a quem tem sede;
3. Vestir os nus;
4. Visitar os doentes e presos;
5. Dar abrigo a todos os viajantes;
6. Resgatar os cativos;
7. Enterrar os mortos.
Porque somos todos mortais, cada um carente à sua maneira, e todos iguais na nossa pequenez e exiguidade diante da eternidade.
31.01.2010
Joaquim Miguel de Morgado Patrício