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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CADA ROCA COM SEU FUSO…

 

George Orwell está na ordem do dia. A cada passo, a realidade que descreveu foi ultrapassada pelos acontecimentos, que ainda são mais inquietantes do que previu. Em dado passo de “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro”, afirma: “Num mundo no qual todos trabalhassem pouco, tivessem o alimento necessário, vivessem numa habitação com casa de banho e frigorífico e possuíssem automóvel ou até avião, a forma mais óbvia e talvez mais importante de desigualdade já teria desaparecido. Desde o momento em que se tornasse geral, a riqueza esta perderia o seu caráter distintivo. Claro que seria possível ainda imaginar uma sociedade na qual a riqueza, no sentido dos bens e luxos pessoais, fosse distribuída equitativamente, enquanto o poder permanecesse nas mãos de uma pequena casta privilegiada. Na prática uma sociedade desse tipo não poderia permanecer estável por muito tempo. Porque se o lazer e a segurança fossem desfrutados por todos igualmente, a grande massa de seres humanos que costuma ser atingida duramente pela pobreza alfabetizar-se-ia e aprenderia a pensar por si. Depois que isso acontecesse, mais cedo ou mais tarde, essa massa dar-se-ia conta de que uma minoria privilegiada não tinha função nenhuma e acabaria com ela. Em suma, a longo prazo, uma sociedade hierárquica e desigual só seria possível num mundo de pobreza e ignorância”. Em “Animal Farm” é a parábola dessa situação que é apresentada. No fundo, o que George Orwell nos propõe é uma sociedade equilibrada e civilizada, baseada na liberdade, na igualdade e no respeito mútuo. Hoje, o mundo das “fake news” pretende condicionar a autonomia individual e favorecer os reflexos condicionados de Pavlov. Pela repetição de uma mentira mil vezes, há quem pretenda torna-la verdade. Como prevenir tal tentação? Eis o grande desafio da democracia, que tem de recusar a lógica iliberal. Um regime iliberal não pode ser democrático. Como nos ensinaram os grandes liberais, a liberdade não pode ser alvo de transigência – lembremos o nosso Herculano. Mas Orwell com toda a razão liga a liberdade ao equilíbrio. A liberdade deve ser igual e a igualdade livre. Não se trata de igualitarismo cego e indiferenciado, nem de liberdade abstrata. E Orwell acreditava em que a verdade era a melhor arma contra a mentira. Em “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro” temos o anúncio do perigo de todos os totalitarismos, vindos de onde vierem…

 

Mas hoje, não resisto a citar um conjunto de imprescindíveis conselhos do grande jornalista, escritos em “A Politica e a Língua Inglesa”. Escrevendo bem e claro podemos defender a verdade! Eis os pontos.

 

«Nunca utilizem uma metáfora, uma comparação ou qualquer outra figura de retórica que tenham encontrado muitas vezes citada;

 

Nunca utilizem uma palavra comprida se outra mais curta puder ser usada com o mesmo sentido:

Se for possível suprimir uma palavra, não hesitem em cortá-la;

 

Nunca utilizem a voz passiva quando for possível usar a voz ativa;

 

Não utilizem uma expressão estrangeira, um termo científico ou especializado, se puderem encontrar um equivalente na língua de todos os dias:

 

Não tenham medo de infringir as regras acima indicadas se a alternativa for um evidente barbarismo»…

 

Tudo muito simples… Tudo muito evidente! Eu tenho sempre as regrazinhas comigo…

 

Afinal, o bom senso obriga sempre ao bom gosto!

 

Muito obrigado George Orwell!

 

Agostinho de Morais