Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICAS PLURICULTURAIS

 

41. O REMÉDIO DA ARTE DE CONVERSAR

 

Grande remédio do mal foi sempre a conversação.

Conversar é arte. É a arte de conversar.

Um recurso, uma solução que auxilia e protege. 

Que atenua os males, agruras e rotinas da vida.

Tornando mais aceitável ou suportável deixar ir o tempo. 

Mas também é aprazível uma conversa enriquecedora.

Comunica-se e estabelece-se a confiança. 

Exerce-se o contraditório, sabendo escutar, coincidir ou desavir. 

Abrimo-nos desabafando, esperando atenção, amparo ou sentido crítico.

Nada melhor que um frente a frente pessoal. 

A distância inviabiliza ver as imperfeições e as insuficiências.

A pessoa que idealizamos e imaginamos de longe, é vista num plano diferente daquele através do qual vemos as pessoas conhecidas. 

É uma visão hipotética ou virtual, que por vezes se aproxima da realidade ou dela se afasta profundamente.

Se a representação imaginária, que fantasiamos do outro, se aproxima da realidade, saboreia-se a conversação que pode conduzir à amizade.   

Se o retrato imaginário não condiz, de todo, com a realidade, sobrevem o choque, a deceção, o afastamento e a rutura.   

Infelizmente a arte de conversar vai-se perdendo, em benefício do bulício normalizador e ruído comum.

Há uma tendência chamativa de chamar e gritar por atenção, maioritariamente via redes sociais, com disponibilidade para lermos, escrevermos e ouvirmos o que já estamos predispostos para ler, escrever e escutar.   

E, então, não há diálogo nem debate, ou se o há falta-lhe densidade e intensidade.

Diálogos, debates e a arte da conversa a dois (ou mais) vai-se perdendo.

Mas quando os há a dois (ou mais) densos e intensos, são oásis de enriquecimento, humanismo e sabedoria, com direito a arquivamento para memória futura.

 

06.03.2020
Joaquim Miguel de Morgado Patrício