CRÓNICAS PLURICULTURAIS
41. O REMÉDIO DA ARTE DE CONVERSAR
Grande remédio do mal foi sempre a conversação.
Conversar é arte. É a arte de conversar.
Um recurso, uma solução que auxilia e protege.
Que atenua os males, agruras e rotinas da vida.
Tornando mais aceitável ou suportável deixar ir o tempo.
Mas também é aprazível uma conversa enriquecedora.
Comunica-se e estabelece-se a confiança.
Exerce-se o contraditório, sabendo escutar, coincidir ou desavir.
Abrimo-nos desabafando, esperando atenção, amparo ou sentido crítico.
Nada melhor que um frente a frente pessoal.
A distância inviabiliza ver as imperfeições e as insuficiências.
A pessoa que idealizamos e imaginamos de longe, é vista num plano diferente daquele através do qual vemos as pessoas conhecidas.
É uma visão hipotética ou virtual, que por vezes se aproxima da realidade ou dela se afasta profundamente.
Se a representação imaginária, que fantasiamos do outro, se aproxima da realidade, saboreia-se a conversação que pode conduzir à amizade.
Se o retrato imaginário não condiz, de todo, com a realidade, sobrevem o choque, a deceção, o afastamento e a rutura.
Infelizmente a arte de conversar vai-se perdendo, em benefício do bulício normalizador e ruído comum.
Há uma tendência chamativa de chamar e gritar por atenção, maioritariamente via redes sociais, com disponibilidade para lermos, escrevermos e ouvirmos o que já estamos predispostos para ler, escrever e escutar.
E, então, não há diálogo nem debate, ou se o há falta-lhe densidade e intensidade.
Diálogos, debates e a arte da conversa a dois (ou mais) vai-se perdendo.
Mas quando os há a dois (ou mais) densos e intensos, são oásis de enriquecimento, humanismo e sabedoria, com direito a arquivamento para memória futura.
06.03.2020
Joaquim Miguel de Morgado Patrício