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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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NOS 20 ANOS DA RECUPERAÇÃO DO TEATRO ROMANO DE BRAGA

 

Já tivemos ocasião de evocar a recuperação das ruínas do Teatro Romano de Braga, nos finais de 1999. As duas décadas entretanto decorridas justificam esta nova referência, até porque não são muitos os vestígios de espaços de espetáculo de tão longa tradição entre nós. E a esse respeito, pode-se também citar o Teatro Romano de Lisboa, descoberto em 1798.

 

Ora, tal como evocamos, na então Bracara Augusta, já fora dos limites históricos da Lusitânia, os trabalhos de expansão urbana da atual Braga puseram a descoberto o conjunto do teatro e anfiteatro. Foram desenvolvidos entretanto trabalhos da Câmara Municipal e da Universidade do Minho para a recuperação arqueológica e divulgação histórica dignos de registo, sobretudo porque, como bem sabemos, são poucos os recintos de espetáculo oriundos do período da civilização romana que chegaram até nós.

 

 Aliás a Lusitânia Romana não abrangia o território português a norte do Douro. Mas estendia-se pela Península, tendo por capital a então chamada Augusta Emerita hoje região de Mérida. Evoca-se o Anfiteatro de Mérida, capital que foi da Lusitânia, o mais imponente, significativo e utilizado recinto/monumento de espetáculos de origem romana da Península: os trabalhos de pesquisa e recuperação revelam uma área significativa de construção que documenta da melhor maneira a importância do aglomerado urbano e o seu significado cultural e monumental.

 

No que respeita a Bracara Augusta, as termas romanas de Maximinos ou as ruínas encontradas na área que é hoje a zona das Carvalheiras, referidas por Fernando Mota de Matos, são vestígios, já recuperados e devidamente estudados, da importância do núcleo urbano: como o é também o que Aarão de Lacerda descreve minuciosamente como o Quintal do Ídolo, remetendo para estudos de Leite de Vasconcelos e outros autores que tivemos já ocasião de referir.

 

Como dissemos, as ruínas foram descobertas em 1999 no contexto de trabalhos de reconversão urbana de cidade de Braga. A partir dessa data, decorridos que foram 20 anos, assinalam-se trabalhos notáveis de recuperação, descritos designadamente no estudo intitulado “A Construção do Teatro Romano de Bracara Augusta”, da autoria de Manuela Martins, Ricardo Mar, Jorge Ribeiro e Fernanda Magalhães.

 

A transcrição que a seguir se faz do estudo acima citado, permite avaliar este trabalho notável de recuperação. E decorridos estes 20 anos, haverá ainda muito a dizer das ruínas do teatro romano de Braga, o qual teria uma lotação de 4000 a 4500 espetadores.

 

Citamos o estudo: “A intenção politica terá residido no estabelecimento de uma relação privilegiada do edifício com o fórum que se situava a nascente do teatro”. E refere-se “a construção de termas públicas anexas que se dispõe a sul do teatro, sendo de sublinhar que existem numerosos exemplares de uma estreita relação entre os teatros, os equipamentos termais e os jardins”.

 

Nestes 20 anos decorridos, o que já chegou até hoje e a forma como se procedeu à recuperação constitui um caso exemplar de articulação de entidades públicas que, na altura escrevemos, e hoje repetimos, tantas vezes por esse país fora, vivem de costas voltadas ou em conflito aberto: E voltaremos ao assunto!...

 

BIBLIOGRAFIA SELECIONADA
Carlos Fabião “A Herança Romana em Portugal” – 2006; Fernando Mota de Matos, in “Portugal Património”, dir. Álvaro Duarte de Almeida e Duarte Belo vol. I - 2007; Aarão de Lacerda “História da Arte em Portugal” – 1942; Manuela Martins, Ricardo Mar, Jorge Ribeiro e Fernanda Magalhães “A Construção do Teatro Romano de Bracara Augusta” in “História da Construção – Arquitetura e Técnicas Construtivas” coord. Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro - 2013.

 

DUARTE IVO CRUZ