MEDITANDO E PENSANDO PORTUGAL
22. PENSAR EM GRANDE
Continente pequeno, cheio de pequenos e médios países, eis a Europa.
Ultrapassada uma visão imperial e eurocêntrica, o seu futuro depende, cada vez mais, da capacidade de pensar em grande, em especial para países como Portugal.
Pequenos ou médios países, como o nosso, usualmente não iniciam guerras, são mais moderados e menos arrogantes e cínicos que os maiores.
Tendo como referência o índice de desenvolvimento humano de 2019, há onze pequenos e médios países entre os quinze mais desenvolvidos, nove deles europeus: Noruega, Suíça, Irlanda, Islândia, Suécia, Singapura, Holanda, Dinamarca, Finlândia e Nova Zelândia, ocupando Portugal a quadragésima posição, em 189 países, incluído no grupo de Estados com um padrão de crescimento muito alto, em termos globais.
É uma vantagem a reter, não sendo necessário ser um grande país em termos territoriais e populacionais para se ter um índice de desenvolvimento elevado, estando provado que pequenos e médios países precisam de um ótimo ou bom sistema de ensino, incluindo bolsas, estudo e investigação no exterior, uma vez que a educação tem de compensar e suprir a pequenez e estreiteza dos horizontes paroquiais e locais.
Com a agravante de Portugal ter a particular vantagem de ter um passado visível, um historial memorável, em especial quando portugueses andaram por mares desconhecidos, achando novos mundos e povos, tendo como consequência atual ser a língua portuguesa a mais falada do hemisfério sul, e das mais faladas mundialmente, com mais falantes que o francês, alemão, italiano, russo, holandês, polaco, grego, entre tantas outras.
Foi o mar, o Atlântico, que nos abriu as portas do mundo, que moldou a nossa identidade, pelo que Portugal não se esgota na Europa, embora nela se inclua, porque sua parte integrante, podendo usar a diplomacia como mediador entre várias potências ou países de várias latitudes onde deixámos raízes ou influência.
São vantagens, mas também há desvantagens: os custos de transação dos pequenos e médios países podem ser mais elevados, o provincianismo e uma mentalidade paroquial são o inverso do ser moderado e pensar proporcionalmente em grande.
Fundamental, também, é construirmos um pensamento crítico de renovação cultural e científica, renunciando a autoritarismos totalitários e repressivos de sufocamento estrutural em termos culturais, sociais e económicos, abrindo-nos à criação e inovação, pondo de lado interpretações e retóricas estereotipadas.
Há que pensar em grande, com equilíbrio e bom senso, por confronto com a nossa posição geográfica, dimensão física e imaterial, em conjugação com o princípio da adequação e da proporcionalidade, excluindo uma construção mitificada da nossa história.
10.07.2020
Joaquim Miguel de Morgado Patrício