Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

MEDITANDO E PENSANDO PORTUGAL

 

23. ENTRE O MAR E O CONTINENTE


Sempre ressaltou, em Portugal, uma dualidade entre o mar e o continente.  

Pouca terra e muito mar. 

A estratégia europeia de vocação universal do império imaginado por D. João II, representava a síntese deste dualismo.

Seria tanto mais sólida quanto mais o fosse a sua base europeia.

Queria que a economia de Portugal, Castela, Leão e Aragão fosse a mais forte da Europa, tendo Lisboa como capital e grande entreposto comercial.

O seu projeto falhou, com a morte do filho, o príncipe D. Afonso, casado com uma filha de Fernando de Aragão e Isabel de Castela, os reis católicos.

O domínio que desejava para Lisboa e a Península Ibérica transferiu-se para a Europa do Norte, como Amesterdão.

Nunca conseguimos ter uma base continental europeia sólida.

Havia também que cuidar das bases sólidas da nossa economia, para não termos um império com pés de barro.

D. João II tentou-o, através da síntese entre os mais próximos da Europa do Norte, como o Infante D. Pedro, e os que se aproximavam mais da Europa do Sul, como o Infante D. Henrique.

Defende-se que o Atlântico se identifica com a Europa do Norte e o Mediterrâneo com a do Sul.  Que o projeto de fixação continental é representado pelo velho do Restelo e o marítimo pelo transporte pelo mar. 

Atenta a nossa posição geográfica na Europa, o nosso projeto está na confluência entre o Atlântico e o Mediterrâneo.

Só que o Atlântico, para Portugal, sempre foi um caminho para além da pátria, da pouca terra do continente europeu e do pouco mar do Mediterrâneo.

Recordando Álvaro de Campos, na sua Ode Marítima, o Atlântico foi sempre, para os “Portugueses atirados de Sagres” um caminho “Para a aventura indefinida, para o Mar Absoluto, para realizar o Impossível”.   

Após a expansão pelo mar com as caravelas e seus viajantes, o fim do ouro do Brasil, do império colonial, do período dourado da União Europeia e do pico turístico, tudo indicia ser o ressurgimento do mar, e de novo o Atlântico, a par da língua portuguesa, um dos maiores ativos estratégicos da nossa existência e sobrevivência.

 

17.07.2020
Joaquim Miguel de Morgado Patrício