A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
LVIII - FERNANDO CRISTÓVÃO
Fernando Cristóvão fala-nos em diferentes graus de união e de associação dos povos que formam a lusofonia, segundo três círculos concêntricos de intensidade.
O primeiro círculo integra os oito países que têm o Português como língua oficial: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Nele inclui regiões que integram outros países e culturas com os quais partilhámos ou partilhamos a língua e a história: Galiza (Espanha), Ano Bom e Ajudá (Benim), Casamansa (Senegal), Goa, Damão, Diu (União Indiana), Macau (China), lugares que falaram ou falam português, suas variantes ou crioulos. Como, por exemplo, os crioulos de Malaca, Sri Lanka, Bali, Java, Curaçau e Suriname, cuja memória cultural que transportaram vai permanecendo, mesmo quando enfraquecidos ou apagados.
É no interior deste círculo, ou núcleo duro dos oito países independentes, que se joga o futuro da língua portuguesa, da solidariedade dos seus falantes, e se desenvolve a ação externa dos lusófonos, a começar pelas organizações internacionais.
O segundo círculo, envolvendo o primeiro, engloba as outras línguas e culturas de cada um dos oito países e das regiões lusófonas, que se encontram em contacto entre si e com a língua comum.
O terceiro círculo concêntrico, mais amplo e abrangente, é constituído por pessoas, grupos e instituições não pertencentes a países e regiões lusófonas, que mantêm com a língua comum, línguas e cultura dos países lusófonos um convívio e diálogo de amizade, afetos, curiosidade, erudição e outros interesses.
São pessoas, grupos e instituições de outras culturas e interesses não lusófonos que se interessam pelos lusófonos: alunos e professores em países não lusófonos, amigos, familiares e meros convivas não lusófonos de emigrantes lusófonos, eruditos e técnicos não lusófonos.
A teoria dos três círculos ascendentes e concêntricos de interdependência e solidariedade integrantes da lusofonia e propostos por Fernando Cristóvão, são inspirados e adaptados (no contexto específico lusófono) dos três círculos ascendentes de interdependência e solidariedade do ecumenismo de Hans Kung.
Cristóvão fala num primeiro círculo ou núcleo duro dos oito países lusófonos que integram a CPLP, num segundo composto por outras línguas e culturas de cada um desses países e de um terceiro mais amplo integrando indivíduos, instituições, grupos e pessoas alheias a países e regiões lusófonas, mas que mantêm com a língua comum e as línguas e culturas dos oito países um diálogo de amizade, empatia, erudição, simpatia e interesses vários[1], por confronto com os círculos do ecumenismo universal do teólogo suíço: ecumenismo cristão (entre as diversas igrejas cristãs), religioso (entre as várias religiões) e humano ou universal (unidade de todos os homens)[2].
Não se esgotando a lusofonia no uso da língua comum e proporcionando a aproximação dos países em todas as áreas que os lusófonos entenderem (economia, ciência, política, etc.), reconhece Cristóvão que “por serem as aproximações e parcerias facilitadas pela língua, ela assume uma importância basilar e prévia a quaisquer entendimentos” (“Res-Publica, Revista Lusófona de Ciência Política e Relações Internacionais”, Ano I, n.º3/4, 2005, p. 26).
24.07.2020
Joaquim Miguel de Morgado Patrício
[1] Cristóvão, Fernando, As Viagens e os Viajantes para os Portos da Lusofonia, revista Res-Publica, Ano I, n.º ¾, Edições Universitárias Lusófonas, 2005, p. 25.
[2] Citados por Fernando dos Santos Neves, em entrevista na mesma revista, p. 10.