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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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AINDA O CENTENÁRIO DE BERNARDO SANTARENO

 

Na semana passada referimos os 100 anos do nascimento de António Martinho do Rosário (1920-1980), desde logo enfatizando o muito que o teatro português ficou a dever a este notável dramaturgo: e é oportuno então lembrar que a obra literária foi divulgada a partir do pseudónimo de Bernardo Santareno. Pois a verdade é que esta tendência para “esquecer” os valores indiscutíveis da nossa cultura, e (talvez) sobretudo no que respeita ao teatro, tendem a ser eles próprios esquecidos: quem se lembra de assinalar a relevância da dramaturgia de Santareno, cumpridos os exatos 100 anos do seu nacimento? 

 

Em qualquer caso, parece-nos então oportuno referir que Carlos Porto, no seu relevante estudo intitulado “O TEP e o Teatro em Portugal – Histórias e Imagens” publicado pela Fundação Eng. António de Almeida dedica a Santareno uma sucessão relevante de citações que, no conjunto, representam uma análise interessante desta dramaturgia. Note-se que a sigla TEP significa precisamente Tetro Experimental do Porto.

 

Ora, independentemente da relevância dramatúrgica de Santareno em si mesma considerada e da sucessão de peças que diversas companhias puseram em cena, para já não falar nas editoras e nos escritores e críticos que o evocam, tem interesse recordar, a partir pois da análise de Carlos Porto, que Santareno estreou-se como dramaturgo “profissional”, digamos assim, em 23 de novembro de 1957, com “A Promessa” pelo Teatro Experimental do Porto – TEP, no Teatro Sá da Bandeira numa encenação de António Pedro.     

 

Aliás, tal como referimos no artigo anterior, o livro de Carlos Porto dá sobretudo destaque, no que se refere a Santareno, a duas estreias: “A Promessa” (1957) e “O Crime da Aldeia Velha” (1959). Passaram entretanto mais de 60 anos: e no entanto, os elencos referidos no livro de Carlos Porto documentam, ainda hoje, a qualidade artística: nomes como Rui Furtado, Dalila Rocha,  João Guedes, Cândida Lacerda, Alda Rodrigues, Vasco de Lima Couto, Baptista Fernandes, Fernanda de Sousa, Cecília Guimarães, Cândida Maria, Nita Mercedes, Fernanda Gonçalves, Alda Rodrigues, Madalena Braga, José Silva, José Pina, Sinde Filipe, tantos anos decorridos, muitos deles ainda dizem muito sobre a arte de representar.

 

E, repita-se, passaram entretanto mais de 60 anos!...

 

Ora bem:

100 anos decorridos sobre o nascimento de António Martinho do Rosário, o que nada nos diz, mas mais de 60 anos decorridos sobre a estreia de Bernardo Santareno (“A Promessa” – 1957); face ao reconhecimento da qualidade das peças de Bernardo Santareno, “um dos mais pujantes dramaturgos de todos os tempos” como escreveu Luís Francisco Rebello; face à extensão, qualidade e complementaridade da bibliografia; face à circunstância de terem sido representados pelo TEP algo como 37 dramaturgos portugueses; face à qualidade da pesquisa e da escrita; face a tudo isto e tudo o mais, penso que o livro de Carlos Porto é realmente merecedor de consideração!

DUARTE IVO CRUZ