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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

30 BOAS RAZÕES PARA PORTUGAL


(I) HERÓIS DO MAR, QUINAS, CASTELOS…

 

Começo, lembrando o que Garrett diz quase no início das suas “Viagens na Minha Terra”, partindo numa viagem até Santarém, ao encontro do seu amigo Passos Manuel. Emblematicamente a invocação lembra que essa Viagem constitui um belo exemplo para explicar Portugal… «Eu muitas vezes, nestas sufocadas noites de Estio, viajo até à minha janela para ver uma nesguita de Tejo que está no fim da rua, e me enganar com uns verdes de árvores que ali vegetam sua laboriosa infância nos entulhos do Cais do Sodré. E nunca escrevi estas minhas viagens nem as suas impressões: pois tinham muito que ver! Foi sempre ambiciosa a minha pena: pobre e soberba, quer assunto mais largo. Pois hei de dar-lho. Vou nada menos que a Santarém: e protesto que de quanto vir e ouvir, de quanto eu pensar e sentir se há de fazer crónica».

 

Nas boas razões para Portugal, falemos de símbolos pátrios: “Heróis do Mar, Nobre Povo, Nação valente, Imortal”, do hino de Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça, escrito em 1890, nos ecos do Ultimato inglês, e o escudo português, constituído por quinas e castelos, com raiz nos nossos primeiros reis. Pode afirmar-se que a referência ao Mar é essencial. Como disse “A Menina do Mar”, a nossa terra é o mar. Se bem virmos, a razão da independência e a naturalidade dela devem-se à costa marítima – bela, agreste, difícil, mas desafiadora. E quando os pescadores, as viúvas e os órfãos da Póvoa pediam um abrigo, defendiam o seu ganha-pão, mas também a riqueza unificadora do Mar. A vontade e o mar explicam a perenidade da nossa pátria antiga. E os heróis são os que desafiam a incerteza e cultivam a aventura. O astrolábio e a vela triangular das caravelas permitiram o domínio do Atlântico. E o Infante D. Henrique foi até ao Algarve para encontrar um melhor e mais seguro ponto de partida para o Mar Oceano. Quantas vezes se pergunta: porque nasceu Portugal? Porque persiste? Porque se projeta globalmente em vontade, em língua e como nação valente?  A resposta está no carácter marítimo em complemento da continentalidade hispânica…

 

É na “Crónica de Portugal” de 1419, presumivelmente de Fernão Lopes, que surge narrado pela primeira vez o milagre fundador do aparecimento de Cristo em Ourique. Referindo uma batalha que terá tido lugar no dia de S. Tiago (25 julho) de 1139 contra vários reis "mouros", o texto dá particular atenção às vésperas do combate. É nessa altura que surge um ermitão face ao futuro rei Afonso Henriques, dizendo: "Ele manda por mim dizer que quando ouvires tanger esta campainha que em esta ermida está que tu saias fora e Ele te aparecerá no Céu...!". Depois regista-se o milagre, como o do Imperador Constantino na Batalha de Ponte Mílvia em 312: “e ele saiu-se fora da sua tenda, e, assi como ele disse e deu testemunho em sua história, viu Nosso Senhor Jesus Cristo em a Cruz pela guisa que o ermitão lhe dissera e adorou-O com grande prazer e lágrimas...". E o milagre é transposto no próprio símbolo da bandeira do futuro reino, "...por se lembrar da mercê que Deus naquele dia fizera, pôs sobre as armas brancas que ele trazia uma cruz toda azul, e pelos cinco reis que lhe Deus fizera vencer departiu a cruz em cinco escudos...”. Esta referência simbólica vai tornar-se forte no período da monarquia dual do período filipino, entre os textos de Duarte Nunes do Leão e a “Monarquia Lusitana”, matriz de um novo mito nacional. Leia-se a história alcobacense da Monarquia Lusitana, da autoria de Frei António Brandão. Este texto inicia-se com a descrição de D. Afonso Henriques, quase místico, lendo a Bíblia, nela encontrando sinais de vitória na batalha que se aproxima. Segue-se um sonho, no qual o futuro rei vê "um velho venerável", bem como a anunciada aparição do "Salvador do mundo". Acordará, depois, e, entre a realidade e o sonho, depara com o velho que lhe prenuncia o milagre. São as quinas referências desta invocação do primeiro rei em Ourique e os castelos em fundo púrpura as armas de D. Afonso III, o Bolonhês…

 

GOM

 


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UM LIVRO RECENTE COM REFERÊNCIAS TEATRAIS


Seja permitida uma nota pessoal: muito recentemente, recebemos um livro de António Braz Teixeira, intitulado “A Vida Imaginada – Textos sobre Teatro e Literatura” que, tal como o título indica, contém e desenvolve numerosas referências e citações, estudos e análises, a dramaturgos, espetáculos e edifícios que, no seu conjunto, marcam a evolução global do espetáculo no que envolve a sua própria complexidade: textos, intérpretes, espaços  e edifícios próprios ou adaptados, e público a assistir...

 

Na verdade, o teatro é espetáculo a partir de texto. E nesse aspeto, o livro de António Braz Teixeira é perfeitamente concreto, na medida em que cruza os textos com a potencialidade dos espetáculos. E transcende mesmo que episodicamente a expressão teatral propriamente dita, integrando-a no universo global da cultura.

 

E isto, numa perspetiva que dá óbvia prioridade ao teatro de autores portugueses, mas sem descurar tanto a referência a outras origens, como sobretudo a convergência cultural e histórica inerente. E isto, numa perspetiva que em si mesma transcende a cultura teatral propriamente dita, mas vai buscar a raízes histórico-culturais as fundamentações dessas convergências.

 

Sendo certo, entretanto, que a fundamentação histórica em si mesma pode justificar certas convergências. Desde logo, designadamente mas não só, no que respeita a autores de raiz histórico-cultural convergente.

 

E aí, destaca-se obviamente o teatro brasileiro e o teatro das ex-colónias africanas. Mas há que referir também estudos sobre dramaturgos e peças de origem espanhola e francesa. E não só: os exemplos vindos de outras culturas também sobressaem. E amplamente se justificam na globalização da cultura teatral.

 

Basta ver desde logo os exemplos que surgem no texto inicial, denominado “Breve Reflexão sobre a Tragédia”. Independentemente da apreciação propriamente dita, as referências abarcam Eugene O’Neill, Arthur Miller, Tennessee Williams, Edward Albee... o que não significa, note-se bem, que estas e outras tantas alusões impliquem qualquer divergência ao temário global da obra em si. E nesse aspeto, o livro é simultaneamente abrangente e coerente.

 

E no que respeita ao teatro português? Aí, a análise impõe-se como dominante, desde logo a partir de um texto iniciático, de abordagem teórica que desenvolve amplamente o historial de Gil Vicente a José Cardoso Pires, e cobrindo os grandes nomes da nossa dramaturgia.

 

Envolve ainda estudos sucessivos sobre a Renascença Portuguesa antecipando-a pelo neo-romantismo, o realismo e o simbolismo. E aí, o destaque vai para D. João da Câmara, Marcelino Mesquita, Manuel Laranjeira, Júlio Dantas, Teixeira Gomes e Henrique Lopes de Mendonça.

 

E segue-se, no mesmo capítulo, mais umas dezenas de dramaturgos, na perspetiva do simbolismo, do saudosismo e de outras estéticas, até à contemporaneidade.

 

Com destaque para António Patrício, Fernando Pessoa, Teixeira de Pascoaes, Jaime Cortesão, Correia de Oliveira e Raul Brandão, entre outros mais, como José Régio, Miguel Torga, Luis Francisco Rebello, Agustina Bessa-Luís, Jaime Salazar Sampaio, Norberto Ávila...

 

E aqui e agora, só citamos os dramaturgos portugueses. Porque, insista-se, o livro abrange todo um conjunto de referências e análises a autores, obras, estilos e épocas.

 

DUARTE IVO CRUZ