CRÓNICA DA CULTURA
O passado que tenho por mais próximo, é o de ler e escrever sobre livros ao longo dos tempos em que os leio e releio, os descubro e redescubro, os vivencio com diferentes paixões, e da experiência de todos, o elo de equilíbrio sempre se moveu, muitas vezes, conflito.
Sempre aprendi e aprendo no movimento e no todo.
Tenho para mim que não há equilíbrio sem mobilidade, nem há equilíbrio sem uma totalidade.
Aprendi e aprendo, o encontro e o perder na viagem de um livro.
Julgo saber que há trilhos irreversíveis para enfim, tentarmos chegar aos vestígios, à passagem pelo meio; à passagem que busco na experiência do livro.
Tempos houve em que me surpreendia com o ângulo tão diferente em que se oferecia um livro já lido. Foram tempos que me trouxeram um outro tempo de aprendizagem: refiro-me ao falar com a escrita, qual criatura terrena.
Tempos do livro arquétipo, dos metalivros, do êxtase, desde o palimpsesto que sempre me provocou de imediato o amor desejado por outros livros, até ao que bebeu da fonte das fontes, entre polo e polo, e eu sempre muito me reconheci e reconheço, deslumbrada, neste cerco aberto.
Tempos de olhar para a frente e para o antes das palavras, sentindo-lhes a resistência, a aceleração, é tempo de com elas sentir uma espécie de cumplicidade com o dom de iluminar as coisas.
Tempos da descida das arribas às povoações quando os livros, soalheiros à interpretação dos sentires das narrativas, nos esclarecem num atalho, no verso e reverso da escrita que leio na solidão que me conhece, e sei, que nem o silêncio é súmula, mas a primeira vontade de existir segue no golfinho veloz.
E é outro livro.
Teresa Bracinha Vieira