A FORÇA DO ATO CRIADOR
Martin Heidegger, Arte e Espaço.
Martin Heidegger no texto ‘Art and Space’ começa por citar Aristóteles através da frase ‘It appears, however, to be something overwhelming and hard to grasp, the ‘topos’ - that is place-space’ e explica que a formação de um objeto no espaço, acontece através de uma demarcação de fronteiras/margens que em simultâneo contornam e excluem. E é aí, que espaço acontece. O objeto formado corporiza algo mas diz sempre respeito ao espaço.
Heidegger questiona então sobre o que será espaço: Será uma expansão homogénea, equivalente em todas as direções mas impercetível aos sentidos? Ou será espaço, aquilo que pertence a um fenómeno primário cuja presença, ou existência, se encontra numa dimensão outra, inatingível que leva à ansiedade?
Heidegger escreve que não é possível entender o carácter único do espaço e por isso este permanece sempre obscuro. O espaço que se descreve em volta de um objeto continua por determinar.
Será este espaço a soma entre o vazio e os volumes cheios?
Heidegger sugere que espaço abre e liberta e por isso permite à pessoa de aí fixar-se e assim habitar. Abrir é desobstruir, é aliviar um lugar. Segundo Heidegger, abrir prepara um lugar para ser habitado. Abrir concede uma aparência às coisas e permite a possibilidade das coisas pertencerem umas às outras. O lugar abre uma região que junta várias coisas, que passarão a pertencer umas às outras. No âmbito do lugar, juntar, permite atribuir abrigo às coisas numa região. Região é uma expansão livre e permite que cada coisa se dilua.
O vazio está intimamente ligado ao lugar. O vazio coleciona, é contentor e prepara o lugar para receber. O vazio não é o nada. E não é o que resta. Existe para conquistar o lugar.
E Heidegger escreve enfim, que o espaço de um objeto abre a possibilidade de um lugar se materializar, e liberta regiões que permitem o homem habitar e aí viver. É o lugar que tudo relaciona. O espaço é o vazio que se abre para permitir a existência de um lugar - é talvez a casa da pessoa humana. E corporiza a verdade de ser. Nem sempre é necessário, a verdade ter um corpo, ou ter uma matéria. Às vezes basta pairar no ar e evocar harmonia.
Ana Ruepp