NOVA REFERÊNCIA AO VELHO TEATRO AVENIDA DE CASTELO BRANCO
No livro intitulado “De Volta aos Teatros” (2008) mas também em colaborações diversas inclusive no CNC, temos feito referências ao Cine-Teatro Avenida de Castelo Branco, referências essas que sobretudo focam a perspetiva de que se pode e deve considerar representativo da evolução urbana, arquitetónica e cultural do interior a partir dos anos 40 do século passado.
Trata-se efetivamente de um período em que se procedeu aquilo que na altura referimos como a descentralização económico-urbana decorrente em grande medida da implantação de situações e património ligado à construção e exploração cinematográfica ainda então conciliada com o teatro: e efetivamente, surgem sobretudo no interior a designação recorrente de Cine-Teatro ou Cineteatro que tanto valorizaram a estrutura urbana, a arquitetura e a cultura teatral quando adequadamente arquitetónica… e até a “solenidade” da inauguração do Teatro Avenida de Castelo Branco, a cargo da companhia Rey Colaço- Robles Monteiro que explorava o Teatro Nacional de D. Maria II, onde se notabilizou, pesem embora as numerosas críticas então endereçadas....
Mas é então de referir o espetáculo inaugural deste Teatro, ocorrido em 2 de outubro de 1954 com a peça “Prémio Nobel” de Fernando Santos, Almeida Amaral e Nelson de Barros, a qual na época alcançou um sucesso assinalável, repetido um pouco por todo o país. E acrescentou-se, neste contexto, a “Ceia dos Cardeais” de Júlio Dantas!
Tratou-se aqui, nesta inauguração do Teatro, de um recurso a uma companhia, ao repertório e aos sucessos da época. E de tal forma que a cerimónia inaugural prosseguiu, nos dias seguintes, com mais um espetáculo do Teatro Nacional. E no dia 4 de outubro inaugurou-se a exploração cinematográfica. Era o mais prestigiante para a época, sobretudo dada a descentralização, digamos assim, da exploração teatral-cultural!
O projeto do Cine-Teatro Avenida de Castelo Branco deve-se aos arquitetos Raul César Caldeira e Alberto Cruzeiro Galvão Roxo e marcou o centro urbano, através da verticalidade de uma sucessão de janelões e varandas que fazem a ligação entre as duas fachadas em gaveto. Mas sobretudo, impunha-se a aplicação em granito, que alterna no interior com o revestimento de madeira, mas serve de bela alusão e documentação ao meio natural em que o edifício foi implantado. E a decoração externa e interna impôs-se também numa notável harmonia arquitetónica e numa assinalável integração urbanística, mais tarde valorizada ainda por um Centro Cultural.
Manuel Tavares dos Santos, escrevendo em 1958, considera “o edifício (como) exemplo característico da evolução da Arquitetura, operada no século XX, com o emprego de novos materiais de construção”.
Vale a pena recordar aliás que Castelo Branco beneficia de uma tradição interessante de salas de espetáculo, que remonta a 1853, com um Teatro União, de origem eclesial, como aliás sucedeu um pouco por todo o país: com a expulsão das Ordens Religiosas, muitos conventos e outros edifícios afetos, por esse país fora, se transformaram em teatros… E em Castelo Branco assinalamos ainda, nessa “tradição-transformação”, um chamado Teatro da Sé (1889) e o Teatro de Castelo Branco, que funcionou a partir do antigo Convento de Santo António, depois relacionado com o Conservatório de Música (1974).
Tal como noutro lado escrevemos, “a cidade tem pois uma sólida tradição dramática, no sentido mais abrangente do termo, talvez porque o conjunto estatuário do Jardim do Bispo crie uma espécie de tensão cenográfica no contraste com o ambiente setecentista do jardim propriamente dito”.
Sousa Bastos, no sempre citado “Dccionáro do Theatro Português” (1908) dá breve noticia do antigo Teatro de Castelo Branco, inaugurado em 28 de junho de 1896 “com a comédia de Pinheiro Chagas Lição Cruel”. Teria “15 camarotes, 40 lugares de superior, 71 cadeiras, 74 gerais e uma galeria que ocupa a 3º ordem”.
Mas voltando ao Teatro Avenida: em 31 de julho de 1986, ardeu. Foi municipalizado e reconstruído.
E cumpre a função cultural inerente, numa zona do país relevante no ponto de vista urbano, arquitetónico e também cultural.
DUARTE IVO CRUZ