Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LOUISE GLÜCK: PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA 2020

 

Voz completa na poesia. Voz inconfundível e cheia de sagacidade mordaz.

 

 

Louise Glück

Modo único de interpretar o que nos diz a vida através do discurso da natureza numa releitura romântica e lúcida.

Modo único de nunca preterir a intimidade das questões familiares, dos amores, dos divórcios, enfim, também da análise da morte, em profunda introspeção solitária e penetrante na procura das palavras precisas.

Modo único de ser discreta, e modo único de, conhecendo a dor, não permitir que esta a impedisse de falar, e só assim a sua poesia esconjurava o que magoa e surgia uma fábula dura, mítica e real. Digo.

Modo único no interesse pela cultura grega e romana; poeta que aspirou sempre ao universal, retrabalhou a mitologia grega e romana, trazendo, nomeadamente, personagens como Perséfone e sobre um jardim de flores, um dos núcleos da sua poesia.

Diga-se que só com a ajuda da tradução de Rui Pires Cabral de um conjunto de poemas do livro “Averno”(2006) tivemos, em português, a possibilidade de conhecer Louise Glück.

 

Desse livro

 

“É verdade que não há beleza suficiente no mundo.
Também é verdade que eu não tenho competência para devolver-lha.
Nem há sequer candor, mas nisso talvez eu possa ser útil.
Eu estou
de serviço, mesmo estando em silêncio.
A sensaboria
miserável do mundo
prende-nos a cada uma das margens, num beco
como se fosse do artista
o dever de inventar
mas a partir de quê? do quê?

(…)

tu não estás só,
disse o poema
na escuridão do túnel.”


Ou de um outro livro


The Past

Small light in the sky appearing
suddenly between
two pine boughs, their fine needles

now etched onto the radiant surface
and above this
high, feathery heaven —

Smell the air. That is the smell of the white pine,
most intense when the wind blows through it
and the sound it makes equally strange,
like the sound of the wind in a movie —

Shadows moving. The ropes
making the sound they make. What you hear now
will be the sound of the nightingale, Chordata,
the male bird courting the female —

The ropes shift. The hammock
sways in the wind, tied
firmly between two pine trees.

Smell the air. That is the smell of the white pine.

It is my mother’s voice you hear
or is it only the sound the trees make
when the air passes through them

because what sound would it make,
passing through nothing?

 

E como eu gostava de conhecer bem toda a obra de Louise Glück. Atrevimento!

E por Louise Glück

sempre que creio que num rio pode estar um embrião de uma noite sofrida que eu não soube como dizer, creio igualmente que o pinheiro que na margem a ele se encosta é bem permeável aos meus segredos, e por aí construo-te a ti e aos ventos que escrevo.

 

Teresa Bracinha Vieira