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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

Saber Ver a Arquitectura de Bruno Zevi. (Parte I)


Em ‘Saber ver a Arquitectura’ (1977) Bruno Zevi entende que falar de arquitetura não pode resumir-se à construção técnica, ao ensaio filológico ou a um reflexo de tendências pictóricas. É por isso, indispensável precisar os atributos da arquitetura e dar-lhes um sentido preciso - movimento, força, vitalidade, harmonia, escala, luz e sombra, cheios e vazios, simetria, ritmo. Importa sim, esclarecer a essência da arquitetura.


A arquitetura não é apenas arte, nem só imagem é também o ambiente, a cena, o espaço interior onde decorre a nossa vida.


Zevi apresenta o espaço como o protagonista da arquitetura: ‘A arquitetura é como uma grande escultura escavada, em cujo interior o homem penetra e caminha’.


Assim, a arquitetura provém do espaço interior em que as pessoas andam e vivem. O espaço interior que apenas pode ser conhecido e vivido pela experiência direta, é o protagonista do "facto arquitetónico".


Para Bruno Zevi, a história da arquitetura é, antes, de mais nada e essencialmente, a história das conceções espaciais, com a suas diversas idades do espaço - a escala humana dos gregos, o espaço estático da antiga Roma, a diretriz humana do espaço cristão, a aceleração direcional e a dilatação de Bizâncio, a "barbárica" interrupção dos ritmos, a métrica românica, os contrastes dimensionais e a continuidade espacial do gótico, as leis e as medidas do espaço de quatrocentos, a volumetria e a plástica do "cinquecento", o movimento e a interpenetração do espaço barroco, o espaço urbanístico do século XIX, a "planta livre" e o espaço orgânico da modernidade.


Para Zevi uma história da arquitetura tem de se orientar para a vida: ‘Uma crítica moderna, viva, social e intelectualmente útil, ousada, não serve, por isso, apenas para preparar para o prazer estético das obras históricas, mas serve também e sobretudo para pôr o problema do ambiente social em que vivemos, dos espaços citadinos e arquitetónicos dentro dos quais se passa a maior parte dos nossos dias, a fim de que os reconheçamos, os "saibamos ver"’.


Para Zevi as interpretações arquitetónicas dividem-se em três grandes categorias: interpretações relativas ao conteúdo; interpretações fisiopsicológicas; e interpretações formalísticas.


Na crítica arquitetónica, todas as interpretações relativas ao conteúdo centram a sua atenção nos espaços. Nas interpretações fisiopsicológicas ‘um espírito agudo acaba por identificar o valor da arquitetura com o do seu espaço, a cuja presença todos os outros elementos estão subordinados’. Dizer, do ponto de vista formalista, que um edifício deve ter unidade ou proporção, euritmia ou carácter significa referirmo-nos aos valores espaciais e de adesão a estes de todos os outros valores.


A interpretação espacial não impede, assim, outros modos de interpretação. Não é uma interpretação específica como as outras - porque do espaço podem dar-se interpretações políticas, económico-sociais, científicas, técnicas, fisiopsicológicas, musicais, geométricas, formalistas. A ‘interpretação espacial constitui o atributo necessário de toda a possível interpretação se esta quiser ter um sentido concreto, profundo, compreensivo em matéria de arquitetura. Oferece, por isso o objeto, o ponto de aplicação arquitetónico a todas as possíveis interpretações da arte e condiciona a sua validade’.


Em Arquitetura, o conteúdo social, o efeito psicológico e os valores formais materializam-se no espaço. Ao interpretar o espaço incluímos todas as realidades de um edifício: ‘Quem penetra na mais complexa indagação da unidade orgânica do homem e da arquitetura sabe já que o ponto de partida de uma visão integrada, compreensiva da arquitetura é o da interpretação espacial, e julgará todos os elementos que entram no edifício com o metro do espaço’. 

 

Ana Ruepp