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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICAS PLURICULTURAIS

 

66. A LIBERDADE DE EXPRESSÃO QUE NOS LIBERTA


A liberdade de expressão, nas sociedades democráticas, tem um valor estruturante e  pessoal.


Sendo estruturalmente antiautoritária, autocorrige-se.


Países com mais elevados níveis de educação e literacia, são candidatos mais fortes à democracia, ciência e liberdade, incluindo a liberdade de expressão.


Tem intrinsecamente subjacente o debate livre entre “verdades” diferentes, que não admite donos da verdade, dada a sua permanente imperfeição e incerteza.


Questionando a autoridade, erodindo o dogmatismo, expurgando a superstição, exige para sua sobrevivência e progresso que as pessoas se encontrem e falem livremente, tendo o direito de fazer perguntas, aceitando que a democracia e a liberdade são, por natureza, imperfeitas.


Permite-nos interpelar o passado, o presente e o futuro.


Tem como dado adquirido, por exemplo, que a visão da História não é só uma. 


Não é apenas a visão do vencedor, mas também a do vencido, ou de outros.


Prevenindo eventuais intolerâncias que não nos façam regressar a uma visão única: a dos vencedores, heróis e conquistadores, a dos vencidos, fracos e perdedores.


Tendo sempre presente que se justifica mais para interpelar, contradizer, dizer mal (mesmo que chocante), e não para dizer bem ou estar de acordo, dado que, quando assim é, não somos incomodados, contrariados, questionados ou perseguidos, só assim não sendo quando se falta à verdade, fazem afirmações maledicentes ou haja uma violação abjeta da defesa da privacidade.


Mas tal liberdade implica que lutemos não só pela nossa liberdade, mas também pela de todos, sem monitorização, fiscalização e policiamento da liberdade de expressão e do pensamento.   


É essa liberdade que nos liberta e concede uma libertação pessoal e dos controlos sociais, o direito a dizer coisas mal-ditas e à indignação, que uma opinião imponderada e não rigorosa possa ser legítima, a querer reescrever (ou não) a História, a uma história não única e plural.


Sem a linguagem dos totalitarismos e atos suprematistas, possibilitando a quem a usufrui exprimir-se em liberdade, por causas nobres, sem um cânone inquisitorial de intolerâncias e de valores, que também beneficia aqueles que sem ela se amputariam e a querem censurar ou extinguir.


Essa liberdade de expressão foi alcançada por muitos que nos antecederam temporalmente e que hoje são tidos como velharias e antiquados, precisamente por quem, tantas vezes, está protegido por essa liberdade tão penosamente conquistada, nem sempre reconhecida e valorizada, porque manipulada, lutando apenas pela sua liberdade, não pela dos outros.   

 

20.11.2020
Joaquim Miguel de Morgado Patrício