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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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NOVAMENTE JORGE DE SENA

 

Temos aqui feito referências evocativas e analíticas a autores, atores e edifícios que, no seu conjunto articulado, constituem a infraestrutura cultural, literária e arquitetónica da expressão e criação do teatro português: e também, obviamente, do teatro em Portugal.


Os temas andam pois ligados, sendo certo entretanto que a produção literário-dramatúrgica, se exige uma infraestrutura de edifícios, não se esgota no histórico dos teatros-salas: e daí, esta sistemática simbiose de produção dramatúrgica e conceção e edificação de salas de espetáculo.


Nesse aspeto, e tendo presente a própria complexidade do teatro-criação literária e do teatro-espetáculo, justifica-se nova  evocação  da criação dramatúrgica de Jorge de Sena, nascido em 1919 e falecido em 1978: isto porque o teatro português muito lhe deve como figura de grande destaque e intervenção cultural, e ainda, designadamente neste caso concreto, pela própria criatividade dramatúrgica da sua obra literária. 


Não é a primeira referência e não será certamente a última.


E desde logo se assinala que o teatro de Jorge de Sena marca uma complementaridade entre o classicismo e o modernismo dramatúrgico. A sua criação dramática inicia-se aliás nos 18 anos do autor, num texto breve naturalista e menos relevante, “Luto” (1938, tinha pois 18 anos).


E então é de assinalar que a primeira grande peça significativa de Jorge de Sena é de 1945 e concilia de modo muito relevante a criatividade e cultura literária subjacente do autor.


Trata-se de “O Indesejado – António Rei”, tragédia histórico-ideológica, seja permitida a expressão que claramente aqui se justifica: pois constitui uma abordagem negacionista do sebastianismo. E desde logo se notabiliza pela conciliação de um conteúdo histórico-ideológico com uma linguagem poética mas de clara vocação cénica.


A esta peça voltaremos, pois constitui um marco relevante do teatro do autor, mas, mais do que isso, da própria visão história-ideológica desta dramaturgia.


E importa então referir que Jorge de Sena dedicou ao teatro uma parcela relevante a sua criação dramatúrgica: citamos designadamente seis títulos que em si mesmos desde logo traduzem um sentido de relevância temática em grande parte voltada para sucessivas evocações historiográficas.


Bastam os nomes das peças no seu conjunto, podemos então citar em especial “Amparo de Mãe ”e também “Ulisseia Adúltera” ambas de 1948. E ainda “A Morte do Papa” (1964),  “O Império do Oriente” (1964), “O Banquete de Dionísios” ( 1969), ou “Epitemeu ou O Homem que Pensava Depois” (1971).


Mas além desta dramaturgia criacional haverá que acrescentar mais uma vasta intervenção traduzida na adaptação para o Rádio Clube Português, à época uma relevante estação radiofónica, de nada menos do que 13 novelas policiais, todas em 1948, num programa produzido pelo teatrólogo António Pedro, com que colaborou designadamente no Teatro Experimental do Porto, à época um movimento relevante na cultura teatral...


E remetemos, a terminar, para a “História do Teatro Português” de Luiz Francisco Rebello, na 3ª edição revista e publicada em 1981: aí se refere designadamente a versão cénica dos “Contos Cruéis” de Jorge de Sena adaptado à cena depois do 25 de Abril. E cita “Amparo de Mãe” e “A Morte do Papa” que qualifica como farsas e “cujo humor negro ronda as fronteiras do surrealismo” assim mesmo!

 

DUARTE IVO CRUZ