Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Três poetas, três poemas e a recordação deste tempo, mesmo cheio de incertezas. Vasco Graça Moura, José Régio e Vinícius de Moraes escrevem para lembrar. É a memória das tradições e de tantas presenças que agora regressam que merecem lembrança…
«Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados!»
Agostinho de Morais
AQUELA FAVA
espero que me calhe aquela fava que é costume meter no bolo-rei: quer dizer que o comi, que o partilhei no natal com quem mais o partilhava
numa ordem das coisas cuja lei de afectos e memória em nós se grava nalgum lugar da alma e que destrava tanta coisa sumida que, bem sei,
pela sua presença cristaliza saudade e alegria em sons e brilhos, sabores, cores, luzes, estribilhos... e até por quem nos falta então se irisa
na mais pobre semente a intensa dança de tempo adulto e tempo de criança.
Vasco Graça Moura
NATAL
Mais uma vez, cá vimos Festejar o teu novo nascimento, Nós, que, parece, nos desiludimos Do teu advento!
Cada vez o teu Reino é menos deste mundo! Mas vimos, com as mãos cheias dos nossos pomos, Festejar-te, — do fundo Da miséria que somos.
Os que à chegada Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos, Somos — não uma vez, mas cada — Teus assassinos.
À tua mesa nos sentamos: Teu sangue e corpo é que nos mata a sede e a fome; Mas por trinta moedas te entregamos; E por temor, negamos o teu nome.
Sob escárnios e ultrajes, Ao vulgo te exibimos, que te aclame; Te rojamos nas lajes; Te cravejamos numa cruz infame.
Depois, a mesma cruz, a erguemos, Como um farol de salvação, Sobre as cidades em que ferve extremos A nossa corrupção.
Os que em leilão a arrematamos Como sagrada peça única, Somos os que jogamos, Para comércio, a tua túnica.
Tais somos, os que, por costume, Vimos, mais uma vez, Aquecer-nos ao lume Que do teu frio e solidão nos dês.
Como é que ainda tens a infinita paciência De voltar, — e te esqueces De que a nossa indigência Recusa Tudo que lhe ofereces?
Mas, se um ano tu deixas de nascer, Se de vez se nos cala a tua voz, Se enfim por nós desistes de morrer, Jesus recém-nascido!, o que será de nós?!
José Régio
POEMA DE NATAL
Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados Para chorar e fazer chorar Para enterrar os nossos mortos — Por isso temos braços longos para os adeuses Mãos para colher o que foi dado Dedos para cavar a terra. Assim será nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer Uma estrela a se apagar na treva Um caminho entre dois túmulos — Por isso precisamos velar Falar baixo, pisar leve, ver A noite dormir em silêncio. Não há muito o que dizer: Uma canção sobre um berço Um verso, talvez de amor Uma prece por quem se vai — Mas que essa hora não esqueça E por ela os nossos corações Se deixem, graves e simples. Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre Para a participação da poesia Para ver a face da morte — De repente nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos, imensamente.
A Obra Completa de Eduardo Lourenço está em curso de publicação pela Fundação Calouste Gulbenkian, tendo sido publicado o volume IX “Pessoa Revisitado – Crítica Pessoana I (1949-1982)”, coordenado por Pedro Sepúlveda.
INCERTEZA E MISTÉRIO Muito se disse já sobre Eduardo Lourenço, mas fica sempre quase tudo envolto numa aura de incerteza e de mistério. Em longuíssimas conversas sempre o senti proteger-se, cético perante as interpretações subjetivas sobre as quais não se detinha propositadamente. Mas sentia-se nele uma preocupação de distanciamento. Um pensador que se qualificou desde muito cedo como heterodoxo, dificilmente poderia deixar-se catalogar, percebendo que haveria tentativas de diversos lados para encerrar o seu percurso num caminho preconcebido. Ao cultivar o ensaísmo, tendo presente a inspiração de Montaigne (“aquela voz que não foi escutada na aventura espiritual portuguesa”) e o exemplo de Coimbra de Sílvio Lima, o escritor assumiu com clareza um subjetivismo dificilmente capturável em qualquer preconceito – até porque, mais do que género literário, Lima considerou, e bem, o ensaio mais como “atitude de ginástica do intelecto”. “Que sais-je?” - a expressão gravada na torre do cultor emblemático do ensaio sempre esteve presente, como interrogação autêntica na caminhada deste verdadeiro buscador de enigmas. Na expressão de Filomena Molder: “Há um trabalho prévio a fazer: pensar por si próprio o homem, o que o obriga a destacar-se do que recebeu e a abrir um caminho que não está traçado: a renúncia a qualquer recado, a qualquer mandato” (Expresso, 4.12.20). “Um ensaísta é alguém disponível para pensar o que merece ser pensado e mesmo o que não merece ser pensado”. Com este entendimento, compreende-se como Eduardo Lourenço partiu da filosofia em direção da literatura, sem nunca esquecer a importância da reflexão crítica e a necessidade de descobrir a identidade cultural através da ficção e da poesia. É certo que não foi um polemista como António Sérgio, mas encontramos preocupações comuns que os ocuparam a ambos, apesar das diferenças evidentes de personalidades e de atitudes. A verdade é que tiveram mestres comuns – entre os quais Antero de Quental e a geração de 1870 e os fundadores da modernidade nacional, Garrett e Herculano, do mesmo modo que ambos seguiram a interpretação do Portugal Contemporâneo sobre as duas políticas nacionais, da fixação e do transporte e sobre a demarcação relativamente ao sebastianismo.
UMA SÍNTESE NECESSÁRIA É comum dizer-se que pensou Portugal como identidade e enquanto visão cíclica entre o passado glorioso e o pessimismo fatalista, mas a “psicanálise mítica do destino português” é mais do que isso, é uma síntese, que deve ser vista como uma releitura crítica dos mitos nacionais. Os excessos identitários exigiriam, sim, a consideração de que, regressados da grande viagem global, somos chamados a um novo tempo de exigência europeia e de consideração dos nossos limites e vantagens, como país de média dimensão, capaz de valorizar a educação, a cultura e a ciência. Contudo, apesar de uma longa existência vivida no estrangeiro, como exilado voluntário, nunca se considerou um “estrangeirado”, uma vez que não deixou de seguir intensamente a vida portuguesa, com a vantagem de não estar preso ao imediatismo e ao confronto das capelinhas. Considerou-se sempre como um português de alma e coração, sem a desvantagem da excessiva proximidade. E assim pôde tentar libertar-se das influências e dos rótulos. Apesar de descrer absolutamente das interpretações astrológicas, lembrava o seu nascimento no fim de maio e a pertença ao signo de Gémeos – e daí a diversidade de tabuleiros em que poderia agir. Sentia-se, afinal, de algum modo, pensador de várias perspetivas, o que seria muito útil no abrir de novas pistas que ajudariam a revelar, por exemplo, o caso de um outro Fernando Pessoa, percebendo que Alberto Caeiro era diferente de Álvaro de Campos ou de Ricardo Reis, e ainda mais de Bernardo Soares.
O ENIGMA PESSOA O fascínio pelo enigma de Fernando Pessoa tornou-se fundamental – sendo Eduardo Lourenço quem revelou a figura icónica, como referência europeia e mundial, para além das leituras paroquiais que prevaleciam antes da revelação das suas intuições luminosas. É verdade que José Régio e a presença começaram a abrir a porta para a compreensão da grande riqueza cultural de Orpheu e de Pessoa como de Mário de Sá-Carneiro, mas pode dizer-se que é o autor de Pessoa Revisitado o grande revelador da extraordinária riqueza que tornaria o poeta de Mensagem um mito cultural de dimensão superlativa. A estratégia criadora de Fernando, rei da nossa Baviera, segundo o pensador, foi a de inventar vários sujeitos virtuais que tinham uma identidade virtual. Caeiro e Reis são produtos da ficção. E Pessoa foi assim libertado do universo que criou, assumindo, ele próprio, a sua identidade como mito. O criador e a sua criação tornaram-se sujeitos de um enigma comum, que o “ensaísta” pôde revelar. E a leitura crítica dos mitos torna-se o método original de Eduardo Lourenço. E, não por acaso, afirmará que Pessoa Revisitado tem “tudo o que penso e sou, é o meu romance”. E quem conhece a obra e a influência que exerceu na compreensão e na projeção urbi et orbi do poeta, sabe que só um interrogador de enigmas absolutamente genial poderia (como um grande poeta ou romancista) contribuir para uma melhor compreensão do mundo e do tempo, através de uma relação biunívoca da ficção com a realidade e da realidade com a ficção. Fabrizio Del Dongo, Emma Bovary, Anna Karenina, Natacha ou os Irmãos Karamazov ganharam alma pelo talento dos seus autores, e puderam existir mesmo… Se a crítica literária se tornou escrita poética em Eduardo Lourenço foi porque se libertou de uma dimensão puramente técnica, para se tornar literatura viva. E é essa a originalidade do crítico. A poesia “não tem outra tradução que ela mesma” – como na imagem de Borges segundo a qual o “mapa verdadeiro da Terra seria o mapa que tivesse o tamanho da Terra” (como o escritor recordou no diálogo com Ana Nascimento Piedade – Gradiva, 2015). E assim a crítica “vai sendo atravessada por referências ao objeto estético que é construído realmente pelo poeta” ou pelo romancista, num discurso equivalente à criação poética ou romanesca… Calderón de la Barca disse que “a vida é sonho” e chegamos à importância do mito. Fernando Pessoa torna-se para Eduardo Lourenço um caso de fixação e de osmose, em que o mito nasce da não-identidade e projeta-se para além da ilusão. O que são Campos, Reis e Caeiro no romance de Eduardo Lourenço? São textos. Caeiro, como irmão gémeo de Whitman, mas diferente de Whitman, Campos como uma referência propriamente mimética de Whitman. E eis-nos perante as duas culturas que originam a riqueza literária de Pessoa – a cultura anglo-saxónica (dos tempos da África do Sul) e a mitologia portuguesa - numa confluência de que resulta a ideia de que a verdadeira aristocracia é a da inteligência, e que constitui eixo de gravidade da obra pessoana. Se Pessoa Revisitado é o grande romance de Eduardo Lourenço, Antero de Quental, como poeta e como pensador e referência fundamental da cultura portuguesa, é o indiscutível mestre, ponte entre as raízes e a modernidade – moderno pela atenção que presta às ideias emancipadoras que revolucionam a Europa, e designadamente a paisagem cultural de França, sob o influxo do século das luzes e da revolução de 1789, mas igualmente ciente da importância da História, da tradição e do tempo longo, dos corsi e ricorsi de Vico, que para o autor de O Labirinto da Saudade tinham uma importância fundamental. A “incompletude trágica”, de que fala Viriato Soromenho Marques (Expresso, cit.) que o pensador sentiu compreende-se na referência anteriana: “Antero quis beber o vinho novo da Revolução na antiga taça de uma Fé que todo o seu século – e ele mesmo - ajudara a quebrar. Ou inversamente, acreditou que a antiga aspiração encontrava o seu cumprimento nos combates novos sob a bandeira da justiça social” (Antero ou o Socialismo como Utopia, 1983). E assim podemos encontrar o nosso incansável pensador, embrenhado no enigma camoniano da procura do “português que tem tudo em nada”. O leitor insaciável continua a caminhar à nossa frente.
Escrevo esta carta pensandossentindo-te, não só a ti, mas a todos os que a lerem e não só. A circunstância atual da vida humana no nosso planeta, leva-me a viver este tempo de Natal, não só como festa da promessa de Vida que se vai realizando, mas como tempo de espera. Respiro a vida à minha volta, transpondo-a para textos e imagens da simbologia tradicional, que nos falam de um paraíso vindouro, em que os humanos convivem com uma natureza limpa em que todos os seres estão em harmonia. E imagino este cenário idílico como antecipação sensorial do universo que todos desejamos - e por isso mesmo já é, mais do que aspiração, semente em nós - posto que a nossa atual capacidade de inteligência, visão ou antevisão das coisas não nos faculta a possibilidade de o concebermos realmente.
No mundo presente, a nossa vida terrenal tem sido cada vez mais marcada pelo frenesi e pela sofreguidão, com forte propensão ao imediatismo. Até arrisco dizer que, na agitação de querermos logo tudo, não só perdemos a capacidade de esperar, como também o sentido da própria esperança. Dir-se-ia que só os pobres, destituídos e despojados, poderão saber hoje o que é a esperança, por muito que as suas próprias expectativas continuem a ser desiludidas... E nós, os abastados, teimamos em não querer entender que não há esperança sem partilha, que esperar não é tão somente aguardar com paciência, antes é acreditar na realidade possível de um mundo novo.
Eis o que me ocorre compartilhar contigo, neste Natal "pandémico", minha Princesa de mim: este Menino Jesus, pobrezinho e forte, aguarda com misericordiosa e infinita paciência a nossa esperança na harmonia do Reino de Deus, na tal que só surgirá em verdade no coração de todos se formos capazes de abraçar a alegria da partilha, em que descobriremos o sorriso de Deus.
Será oportuna esta evocação da obra teatral de Sá de Miranda (1481- 1558), dada a perspetiva de internacionalização cultural e de certo modo técnica, aplicável à criação dramatúrgica em si mesma: e isto, não obstante essa produção, na obra que agora analisamos, ser escassa.
Luiz Francisco Rebello, na “História do Teatro Português” (3ª ed. 1981) refere que a Sá de Miranda se deve “a primeira tentativa de integração” das “novas estruturas dramatúrgicas impostas pela estéticas renascentista”. De Sá de Miranda chegaram-nos apenas duas peças: “Estrangeiros” (1528) e “Vilhalpandos” (1538), além de um esboço em verso, não consagrado, que intitulou “Cleópatra”.
Temos pois um dramaturgo limitado a duas obras: e no entanto, justifica-se a referência, pois significa, nas suas óbvias limitações, como que uma internacionalização do teatro produzido em Portugal.
Escassa dramaturgia, portanto. Mas importa ter presente aspetos específicos que se prendem com a internacionalização cultural que estas peças, em si mesmas, envolvem. Não é por acaso que tal ocorre.
Sucede efetivamente que Sá de Miranda parte para Itália em 1521, portanto há praticamente 5 séculos. Nestas vésperas de consagração cronológica, justifica-se a evocação, mesmo admitindo desde já que a dramaturgia em si mesma de Sá de Miranda, como vimos é escassa e não é especialmente relevante: mas importa verificar como representa uma “internacionalização” cultural, digamos assim, com base em influências relevantes da época e ainda hoje: e isto, não obstante a qualidade relativa das expressões dramáticas em si mesmas. Pois de facto Sá de Miranda não é especialmente marcado pela técnica já então muito desenvolvida, sobretudo no teatro italiano.
E a esse respeito, é oportuno citar precisamente a opinião da historiadora italiana Luciana Stegagno Picchio, que dedicou ao teatro português estudos de relevo muitas vezes aqui referidos. Pois, a propósito da peça “Estrangeiros” Luciana escreveu:
“Embora a ação de “Os Estrangeiros” decorresse em Palermo e as personagens ostentassem nomes de feição clássica (Amente, Devorante, Petrónio, Cassiano), o todo exalava ainda um saboroso perfume ibérico, composto de grosseiros jogos de palavras, de pescar de olhos, de concessões a um público plebeu acostumado às chalaças vicentinas, tão caseiras, tão pejadas de história local”, assim mesmo!... (in “História do Teatro Português” 1960)
E terminamos esta evocação com uma longa transcrição da dedicatória de Sá de Miranda em “Estrangeiros” ao Cardeal D. Henrique, que citamos na nossa “História do Teatro Português” (2001):
“A comédia, qual é tal, aldeã e mal ataviada. Esta só lembrança lhe fiz à partida, que não se desculpasse de querer às vezes arremedar Plauto e Terêncio, porque em outras partes lhe fora grande louvor, e se mais também acoimassem a pessoa de um Doutor, como tomada de Ludovico Ariosto, que lhe pusesse diante os três advogados de Terêncio, dos quais um nega, outro afirma, o terceiro duvida, como ainda acontece: assim que desde aquele tempo já vem o furto.”
Assim mesmo! E vale a pena recordar como a história do teatro em Portugal, apesar das limitações, é variada!...
É para ser usada por portugueses, em Portugal. Foi criada em Portugal, por cientistas portugueses. Foi apresentada em Portugal, por e para portugueses. Há quem a tenha como amiga do nosso confinamento. É uma aplicação de telemóvel que nos alerta da COVID 19 se estivermos em risco de contágio. Dizem ser amiga da privacidade e é facultativa. Se nada se faz sem a nossa anuência, houve um défice de debate para um verdadeiro consentimento informado. Que nunca deveria suscitar-se quanto ao nome desta aplicação. Que é a associação de duas palavras inglesas: stay away. Criada por portugueses e para seu uso interno, pergunta-se: porquê este inglesismo? Não é o nosso idioma suficientemente adequado e rico? Porquê secundarizar, provinciana e injustificadamente, a nossa língua? Porquê este contributo português para uma maior difusão internacional do inglês, cujo significado, saiba-se ou não, e muitos não o sabem, o que é indiferente, se destina a portugueses? Porque não, no mínimo e em primeiro lugar, um nome em português, seguido de um em inglês? Onde pretendemos chegar? A nossa pátria é a língua inglesa? A língua portuguesa não o merece.
1. Quando demos por nós, já lá estávamos, claro, mas ainda sem consciência de estarmos. Foi um tomar consciência lento, gradual. Mas houve um dia, dias, em que se nos impôs ou foi impondo claramente que nos pertencemos, que somos livres, que somos donos e senhores de nós próprios e das nossas acções, com a responsabilidade de nos fazermos a nós mesmos no mundo com os outros. De qualquer forma, percebemos que já somos, mas ainda não somos e temos de escolher o que queremos ser. Abateu-se sobre nós, gigantesca, decisiva, a única tarefa que temos: fazendo o que fazemos ou não fazemos, por acção, por omissão, estamos a fazer-nos e, no fim, resultará uma obra de arte ou uma vergonha...
Assim, torna-se claro que a nossa vida, para se erguer num projecto digno, tem de se ir vendo do presente para o futuro e do futuro para o presente continuado, se se quiser, numa imagem mais visual, tem de ver-se de cá para lá e, por antecipação, de lá para cá. Para que lá, no fim, olhando para trás, não nos arrependamos do que fizemos ou não fizemos, não tenhamos vergonha, não tenhamos pena de não termos feito o que poderíamos fazer e não fizemos. É que — isto é abissal — só vivemos uma vez.
Não se trata de viver apenas em função do futuro, pois é preciso viver intensamente, em todas as dimensões, agora, pois é sempre no presente que vivemos. Mas sem esquecer o futuro. Um dia perguntaram-me qual seria a minha resposta se um jovem me pedisse uma sugestão que o ajudasse a encontrar um sentido para a sua vida. Respondi: “Depende do jovem concreto que me formulasse a pergunta. Mas, de modo genérico, diria: procura responder com dignidade às perguntas e aos desafios que a vida te faz. Mais concretamente: estuda, ama, abre-te generosamente ao mundo e aos outros, alegra-te com o facto de seres jovem e com as possibilidades que te são dadas, não penses exigir colher na vida adulta e na velhice o que não semeaste na juventude.”
2. Evidentemente, não somos totalmente livres. A nossa liberdade é finita, pois estamos enraizados no tempo, em circunstâncias que não dominamos completamente, somos também fruto de uma herança genética, de uma determinada educação, de oportunidades mais favoráveis, menos favoráveis. De qualquer modo, erguemo-nos sempre acima de todas essas circunstâncias e podemos e devemos perguntar: o que é que eu posso e devo fazer com tudo aquilo que me foi dado e com o que a vida fez de mim? Que sentido quero dar à minha existência?
Numa sociedade como a nossa, que põe o acento no prazer, na imagem, no parecer e no aparecer, no consumo voraz, no culto do individualismo, na imediatidade, na sociedade-espectáculo, no “divertir-se até à morte”, a pergunta já não se coloca com a intensidade que exige, e o que então se experiencia é o vazio existencial. Se o sentido é da ordem do ser, é natural que numa sociedade baseada no ter, na corrida vertiginosa por isto e por aquilo, haja dificuldade em encontrá-lo. A nossa sociedade vive essencialmente de sensações e da racionalidade instrumental, de meios para outros meios, faltando, por isso, os verdadeiros fins humanos.
A nossa sociedade vive uma tensão. Por um lado, a competição sem freio, o hedonismo, a agitação do imediato, a ruptura com a tradição, a incapacidade de gerir torrentes de informações e a confluência caótica e contraditória de opiniões e cosmovisões, o relativismo dos valores e das crenças conduzem a uma experiência de vazio, que se exprime no sentimento de cansaço, de abandono, de decadência, na proliferação do tédio, da descrença e da agressividade, na anomia do consumo de drogas e de álcool, no aumento crescente das depressões e dos tranquilizantes, na desorientação, uma situação dramática que clama por outra sociedade e uma atitude diferente face à existência. Por outro lado, parece nem haver tempo para parar e perguntar pelo sentido. Evidentemente, a pandemia agravou a situação, mas obrigou a parar e a pensar.
E quem sabe? Numa sociedade da agitação, do ruído, incapaz de silêncio, na voragem do tempo e da vivência à superfície, sem fundura, longe, muito longe da espiritualidade, de Deus e do essencial, pode acontecer que este retiro forçado, obrigando-nos a parar, nos traga a alegria do reencontro com o melhor: a família, o mistério do Ser e de ser, o milagre de existir e estar vivo. Oxalá: um despertar!
E, para verdadeiramente sermos, o apelo ao regresso à ética. Decisivo é perceber que só encontra sentido quem não se encerra em si mesmo, mas se abre ao mundo e aos outros, corresponsabilizando-se pela configuração da sociedade na justiça, na fraternidade e na paz.
Hoje, tomamos consciência mais clara de que a Humanidade habita numa “pequena aldeia” (Mc Luhan) e de que vimos da natureza por evolução e que ou nos salvamos todos ou ninguém se salva. A nossa solidariedade já não pode, portanto, limitar-se aos mais próximos, somos responsáveis pela Humanidade toda no presente e também pelas gerações futuras e, nessa responsabilidade, tem de estar incluída a Natureza. O actual modelo de desenvolvimento gera simultaneamente a crise ecológica e a injustiça social. Assim, a construção da casa comum da Humanidade exige uma consciência ética — veja-se o elo entre ethos (habitação) e oikos (casa), ligando ética, economia e ecologia —, aliada a um nova proposta político-cultural global, para uma nova ordem económico-ecológica global justa e sustentável, a favor do homem todo e da Humanidade inteira.
Anselmo Borges Padre e professor de Filosofia Escreve de acordo com a antiga ortografia Artigo publicado no DN | 12 DEZ 2020
Pode dizer-se que o mestre dos romances de espionagem, se escreveu sobre o “crime quase perfeito”, foi de facto o “Espião Perfeito”. Porquê? Porque perfeito é completo e uma vez que não poderemos entender a Guerra Fria e o seu clima tenso e enigmático sem ler John le Carré, cujo nome de batismo era David John Moore Cornwell. Nasceu em Poole, Inglaterra, em 1931. Frequentou um colégio privado em Sherborne. Mudou-se para Suíça aos 16 anos, onde se matriculou na Universidade de Berna, para estudar literaturamoderna. Foi lá que, no final da década de 1940, foi recrutado para o MI-5 do Inteligent Service britânico por um amigo dos “serviços”, onde esteve de 1950 a 1964. Foi professor de francês e de alemão em Eton, o prestigiadíssimo colégio da elite britânica, numa altura em que começou a trabalhar efetivamente como agente secreto, o que lhe permitiria encontrar matéria de sobra para a sua escrita. Na Universidade de Oxford, para onde foi depois de estar em Berna, espiava possíveis simpatizantes soviéticos. O centro de operações onde trabalhou foi na Cruzon Street na capital britânica. Em 1960, mudou-se para a Alemanha, agindo com estatuto diplomático, o que lhe permitiu estar no fulcro dos acontecimentos da Guerra Fria. Era o tempo em que lhe estavam confiadas complexas tarefas, como fazer interrogatórios, realizar escutas telefónicas e dirigir agentes. Pôde, porém, apreender minuciosamente tudo o que era importante nessa tarefa. Foi então mordido pelo bicho literário, dedicando-se, a partir de 1964 exclusivamente ao romance, após o sucesso de O Espião que Saiu do Frio, saído a lume pela primeira vez em 1963 – “a melhor história de espionagem que jamais lera”, segundo o celebérrimo Graham Greene (seu colega no MI-6). Foi este livro — a sua terceira obra — que o lançou mundialmente. A obra foi aprovada pelos serviços secretos porque era “pura ficção do início ao fim” e, por isso, não representava riscos de segurança. Isto, ao contrário do que pensavam os críticos internos de Greene, que entendiam estar este sempre a pisar o risco quanto aos segredos que conhecia. Ainda assim, foi-lhe exigido que usasse um pseudónimo. Seguir-se-iam outras obras, como: O Alfaiate do Panamá, inspirado em O Nossos Agente em Havana de Graham Greene, Single & Single, O Fiel Jardineiro, Amigos até ao Fim, O Canto da Missão e Um Homem Muito Procurado. O agente George Smiley, tornou-se uma personagem célebre, ligando-se intimamente a Le Carré - “baixo e roliço, com óculos pesados e cabelo ralo (...), protótipo do solteirão falhado de meia-idade com um emprego sedentário”, segundo a descrição que dele faz uma velha amiga em Um Crime Quase Perfeito (1962), o segundo romance do escritor, depois de Chamada para a Morte (1961).O “The New York Times” recorda que John le Carré recusou sempre que os seus livros fossem inscritos para prémios literários. No entanto, muitos críticos consideraram que as suas obras são literatura de primeira água. Em Portugal, publicou um total de 25 obras desde 1969, por várias editoras (Edições 70, Europa-América, Presença, D. Quixote etc.)… Muitos dos seus livros foram adaptados para o cinema ou para a televisão: O Espião que saiu do Frio (com Richard Burton, óscar do melhor ator, filme realizado por Martin Ritt em 1965), A Gente de Smiley e A Toupeira, com Alec Guiness no papel de agente Smiley. Em 2016 surpreendeu ao publicar a autobiografia O Túnel de Pombos, onde evoca uma infância difícil: abandonado aos cinco anos pela mãe, com quem se reencontrou aos 21, dominado por um pai autoritário e mau carácter duvidoso, a certa altura preso por fraude. O seu último livro, Agente em Campo, foi publicado em 2019 e mostra Le Carré europeísta convicto e ativo opositor do “Brexit” , a olhar criticamente para a política britânica, bem como para a América de Trump e para a Rússia de Putin. É muito significativo que um autor arguto e inteligente como John Le Carré tenha preservado mesmo depois de 1989 e da queda do muro de Berlim a mesma lucidez sobre o curso de acontecimentos no mundo, em circunstâncias perigosas e incertas. Eis uma leitura essencialíssima, ainda por cima de um grande escritor…
“Uma História da Leitura” de Alberto Manguel (Tinta da China, 2020) fala-nos do prazer da leitura e da relação que se estabelece entre leitores e livros, ultrapassando as barreiras do tempo e do espaço e permitindo o que Quevedo designou ‘conversas com os mortos’…
BIBLIOTECA VIRTUOSA “Uma biblioteca antes de o leitor exercer uma escolha é como o caldo primordial de átomos do qual toda a vida emergiu. Está tudo ao alcance de uma pergunta: cada ideia, cada metáfora, cada história, a identidade de cada leitor individual. As escolhas que faço numa biblioteca, a seleção de livros que mais prezo, denunciam não só a minha visão do Paraíso, mas também a minha identidade. A verdade é que sempre senti que a minha experiência do quotidiano, assim como uma certa compreensão dessa experiência, me chega através das minhas leituras. Em criança aprendi sobre o amor lendo histórias d’As Mil e Uma Noites, sobre a morte com os policiais, sobre o mar com Stevenson, sobre a selva com Kipling, sobre a possibilidade de aventuras extraordinárias com Júlio Verne. A experiência tangível chegou, na maioria dos casos, muito mais tarde, mas quando chegou eu tinha palavras para a nomear”. Alberto Manguel recorda-nos, assim, algo que é familiar para quem gosta de livros e de bibliotecas. As coisas passam-se normalmente desta maneira. Começa-se a amar os livros como objetos. Entusiasmamo-nos com as suas capas, com as suas encadernações, depois chegamos às imagens que os ilustram e à curiosidade de perceber o que significam, nesse sentido os Dicionários e as Enciclopédias ilustradas constituem lugares extraordinários, porque as ilustrações e os sentidos estão por definição próximos, em seguida entusiasmamo-nos pelas capitulares, até às narrativas e ao seu fantástico desenvolvimento. Não por acaso, as capitulares ricamente decoradas enchiam os mais antigos códices e a última edição do livro de Manguel tem na capa uma capitular, um L, como não poderia deixar de ser… A paixão da leitura constitui um processo complexo, como acontece na História da Humanidade, tudo começa pela oralidade, ainda antes de nascermos, quando ouvimos a voz da nossa mãe, primeiro conversando connosco ou entoando uma melodia, depois contando uma história muito simples, sobre o tempo em que os animais falavam, e a pouco e pouco vamos entendendo o mundo através dessa voz, dessas narrativas, desses poemas. Para mim, os livros de ilustrações não foram o princípio, mas depressa entendi a sua extraordinária importância e por ainda hoje me deixo fascinar pelas histórias de quadradinhos. Se comecei a amar os livros como objetos, foi porque nasci rodeado de livros muito sérios, enchendo paredes até ao teto, que fui descobrindo como caixas de surpresas muito ordenadas… Era muito difícil chegar as livros mais altos, mas felizmente o que se designa como obras de referência estão sempre à mão, que o mesmo é dizer nas prateleiras de baixo.
VINTE ANOS DEPOIS Alberto Manguel regressou a este seu livro vinte anos depois (como o tempo que Alexandre Dumas escolheu para reencontrar os mosqueteiros), e sentimos que a atualidade está plenamente viva. E lembra-nos o tempo em que pôde ser leitor para alguém que estava a perder a visão, como Jorge Luís Borges, e esses diálogos são demonstrações de como a leitura é a descoberta do mundo. Umberto Eco disse, por isso, que podemos viver pelo menos cinco mil anos, lendo, porque esse é o tempo da história da nossa civilização… Essa é a demonstração de como ler é cumprir o que Quevedo afirmou, fazendo da memória algo presente – como algo de sublime. Desde a sabedoria de Salomão até aos contos de Borges, estamos, afinal, a antecipar o encontro com Dante na antecâmara do Paraíso. No fundo, aprender a ler é entrar plenamente no mundo da vida. “A criança que aprende a ler é admitida na memória comum por via dos livros e descobre, assim, um passado partilhado que ele ou ela renova, em maior ou menor grau, a cada leitura». Lembro bem o momento em que minha mãe me ajudou a decifrar as primeiras páginas da “Cartilha Maternal” – e não esqueço os tempos exaltantes em que ajudei os meus filhos e os meus netos na aprendizagem fundamental da leitura. E só um poeta talentoso como João de Deus poderia ter criado um sistema tão atraente, eficaz e duradouro… É certo que todos os métodos são bons desde que os seus resultados sejam positivos, mas ficamos para sempre ligados ao que seguimos. Afonso X, o Sábio, escritor maior da nossa língua, disse um dia: “Bem e lealmente devem os professores mostrar o seu saber aos discípulos, lendo-lhes livros e fazendo-os compreendê-los o melhor que forem capazes…” E acrescentava o carácter insubstituível dessa relação, pessoal e íntima. “Uma História da Leitura” é um percurso multifacetado com mil circunstâncias e exemplos sobre o prazer da leitura. E se digo prazer é porque essa relação tem de ser cultivada. Não escolhi nascer na biblioteca de meu avô, professor de profissão entre outros ofícios. Concedo que tive condições especiais para essa paixão.
Como está escrito nos Contos de Genji, o caminho do amor neste mundo escapa à razão... Saikaku evoca esta suposta citação da célebre novela de Murasaki no seu famoso Gonin Onna, histórias de cinco mulheres apaixonadas. Não encontro tal frase no romance do século X, mas devo-lhe um melhor entendimento das intenções do romancista Ihara Saikaku quando, sete séculos mais tarde, reúne em volume aquelas cinco narrativas de amores trágicos... No comentário que anexa à sua versão francesa do Gonin Onna - e que é, afinal, constituído pelas suas próprias notas de leitura - Georges Bonmarchand escreve, com muita propriedade, trechos que seguidamente traduzo:
Como o leitor desde logo verificará, lendo a aventura passional de cada uma das cinco heroínas, ser-nos-ia impossível compará-las a qualquer qualquer ichidai onna (mulher libidinosa) e nelas encontrar escravas de exigente sensualidade. Em cada uma daquelas mulheres achamos, sim, um amor sincero, cheio de sentimento e de devoção exclusiva ao amante, conformemente aos costumes quotidianos das gentes do povo e sem relação com o mundo singular dos bairros de prazer. Pelo seu carácter, esta obra se afasta, portanto, dos outros koshoku mono (contos eróticos ou lascivos). Consequentemente, e apesar do seu título incluir o termo koshoku, indicador de um género, pareceu-nos difícil dar-lhe aqui o seu sentido próprio, se traduzíssemos por «Cinco mulheres Libidinosas» ou "Cinco mulheres Voluptuosas». As três jovens, tal como as duas mulheres adúlteras são, na verdade, «enamoradas». Por isso optámos pelo título «Cinco Enamoradas».
Pela sua orientação realista - e moralizadora - a obra de Ihara Saikaku deve ser lida no contexto da vida social e dos códigos éticos da era Edo ou Tokugawa (séculos XVII e XVIII mais 3/4 do XIX. Assim, a prostituição era uma profissão feminina devidamente regulamentada e confinada em distritos ou bairros delimitados para o efeito. Exercia-se em lupanares e outros estabelecimentos de natureza "relaxante" (banhos públicos, restauração e bebidas, albergues, etc.), muitas vezes não legalizados, mas relativamente tolerados. Na verdade, sobre ela não recaía qualquer condenação moral, pelo que os seus clientes eram, indiferentemente, homens solteiros ou casados, podendo as suas profissionais, sobretudo as cortesãs mais qualificadas, proceder de classes sociais relativamente elevadas.
Completamente diferente era a situação da mulher casada, quase sempre por arranjos entre famílias que recorriam, ou não, aos préstimos de amigos ou conhecidos, bem como de alcoviteiras. Curioso exemplo é o de famílias sem filho varão que, pela continuidade do nome e da casa, adotavam o genro como filho próprio. Em tudo a noiva e mulher legítima se devia sujeitar ao marido e ser-lhe fiel Já alhures referi que, em japonês, se fala da mulher de outrem chamando-a de okusan, mas da própria se diz kanai, isto é, a que está dentro, a de casa. Pelo seu lado, os maridos daqueles tempos de antanho podiam manter, mesmo na sua própria casa, amantes ou concubinas. Assim, facilmente se compreende que tais uniões matrimoniais eram muitas vezes desprovidas de afeto mútuo e podiam conduzir ao adultério feminino.
Como também facilmente se depreende que a força do conceito de ie (casa e família, ou casa de família) obrigava ao banimento de qualquer união livre do consenso das famílias e dos arranjos a ela conducentes. Os namorados que tal regra infringissem eram imediatamente contrariados, perseguidos e duramente castigados. Assim se pensava proteger e manter o nome e o património da casa e da família.
Saikaku formulou frequentemente reivindicações de justiça e paridade de direitos das mulheres. Para terminar esta página, traduzo o dito que o nosso autor põe na boca de uma jovem, filha de um fidalgo militar e que fugira com o namorado, tendo então ambos sido apanhados, decapitado o moço, presa a filha num quarto da casa paterna por se recusar a suicidar, desse modo reparando a própria falta e o bom nome da família. A narrativa escrita por Saikaku encontra-se nos Contos das Províncias (Shokoku banashi), publicados um ano antes de Gonin-onna:
«Se me recuso a obedecer não é por receio de morrer, mas porque não quero morrer por não ter cometido qualquer delito imoral. Entre os humanos, é normal que a mulher apenas possua um homem. O que deve ser classificado de delito imoral é uma mulher que, tendo um marido, ama outro homem, ou que, separada do marido pela morte, se volte a casar. Não podemos acusar de delito imoral uma mulher que durante toda a vida sse consagra a um só homem. Além disso, já aconteceu uma mulher ter elevado a condição dum inferior, casando com ele. Em nada, pois, ofendi a moral! E este homem não devia ter sido condenado à morte!»
O que no conto da Saikaku se passa a seguir é a jovem cortar o cabelo, tornar-se bonza para prestar ao defunto o devido culto mortuário. O título desse conto é lindo: O leque oferecido em segredo, e que levava escrito um longo poema...