A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
LXXIV - UMA SÍNTESE EVOLUTIVA (VII)
No campo jurídico a preservação, divulgação, promoção e internacionalização de todas as línguas como um bem jurídico comum da humanidade, por um lado e, por outro, da língua portuguesa como bem jurídico partilhado de todos os lusófonos, nunca inviabilizou uma pesquisa multiforme de vários projetos para uma língua universal, que falharam, mesmo após a criação da primeira língua artificial de vocação universal e de uma pretensa língua neutral.
Estamos no tempo das línguas internacionais, de comunicação global, transitando-se da ideia de uma língua universal para a de uma internacional de comunicação global, dotada de um fim funcional e prático, que nem o esperanto ousou limitar ou ultrapassar, apesar de ser o exemplo mais bem conseguido de língua universal.
O fim da segunda guerra mundial, foi sobretudo o triunfo doa anglófonos, da língua inglesa, porque os países dela saídos aconchegaram-se no abrigo da economia sobrevivente dos países falantes de inglês, em particular dos Estados Unidos da América, extensivo às nações do mundo ocidental que, por arrastamento, se aplicou às economias nipónica e asiática em geral. Os então países do bloco de leste ficaram fora deste espaço, caindo no de influência russa, que foi uma questão de tempo, como hoje sabemos.
Prevalece a ideia de que os que detêm o poder impõem a sua língua, sejam conquistadores, colonizadores, vencedores ou administradores.
Mas há que não esquecer que os conquistados, colonizados, perdedores e súbditos de outrora podem ser os conquistadores, colonizadores, vencedores e administradores de amanhã, como sucedeu após a intervenção americana na segunda grande guerra, dada a sua força económica e militar, veiculando a língua inglesa, do antigo colonizador europeu, seu ex-inimigo, nomeadamente aquando da independência.
Também o futuro do nosso idioma será essencialmente decidido fora de Portugal, não só pelo potencial económico, cultural e demográfico reconhecidamente elevado de alguns falantes do seu núcleo duro (ainda que em países por desenvolver ou em desenvolvimento), mas também pela necessidade de uma política linguística dirigida a falantes não nativos que a difunda e promova para além do seu restrito espaço geolinguístico.
19.02.2021
Joaquim Miguel de Morgado Patrício