A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
LXXVIII - UMA SÍNTESE EVOLUTIVA (XI)
Não basta a língua portuguesa e a lusofonia serem de natureza transnacional e transcontinental, nem terem centenas de milhões de falantes, pois a sua força numa dimensão comunitária só será efetiva quando o português for um idioma de poder, representando países de reconhecida relevância política, cultural e económica, não excluídos em termos económicos, sociais, culturais, educacionais e de cidadania.
Sem esquecer ser a CPLP a representação jurídica de uma organização internacional, interestadual e intergovernamental de base comunitária e não territorial, quadro institucional por excelência da lusofonia, que não esgota, sendo-lhe o idioma e o mundo lusófono anteriores e mais abrangentes, com fins predominantemente culturais em redor de uma língua comum (bloco linguístico) e subsidiariamente de cooperação variada, de vocação aberta e amiga do Direito Internacional (especialmente Público), de inclinação restrita na sua composição, com personalidade jurídica, autonomia administrativa e financeira, órgãos próprios, de insuficiente maturidade, sem obrigações verdadeiramente jurídicas para os seus membros, antes políticas, nem meios ou mecanismos judiciais de atuação e coação sobre os mesmos.
Conclui-se que também a CPLP pode e deve dar uma resposta adequada e positiva ao futuro da língua portuguesa, da lusofonia e à sua defesa como valores permanentes, começando desde logo pela vontade política. O mesmo quanto ao IILP, um nado morto, até hoje.
Mas essa presumível vontade permanente de valores permanentes não é permanente, podendo dividir-se ou multiplicar-se noutros idiomas ou tentar uniformizar-se na diversidade de um só, tal como um dia sucedeu com a língua dos gregos e romanos, podendo haver uma separação estrutural e lenta entre o português de Portugal, do Brasil e dos países africanos, ou a recriação de um espaço maior, diverso e predominantemente lusófono, quiçá iberófono, presumivelmente liderado pelo Brasil, país de escala continental, por maioria de razão se um dia uma potência dominante.
Se o latim do império romano não perdurou, na sua pureza, até hoje, fragmentando-se em várias línguas, por que não com outras, como a portuguesa, formando uma família de línguas?
19.03.2021
Joaquim Miguel de Morgado Patrício