A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO
LXXX - REPRESENTANDO O OFICIAL E O REAL
Nem sempre o número de países que cada potência colonial gerou é proporcional ao de falantes.
Por exemplo, o francês tem menos falantes como língua materna ou segunda que o português, mas gerou quatro vezes mais países do que aqueles que têm o nosso idioma como oficial ou língua segunda, o que lhe dá maior projeção e prestígio nos fóruns e organizações internacionais permitindo-lhe, até hoje, ser a segunda língua oficial mais representativa a seguir ao inglês.
Como consequência de um passado colonial ligado à França e à Bélgica, há entre 25 a 30 países que têm o francês como língua oficial. Além da França, Bélgica, Luxemburgo, Suíça e Mónaco (na Europa), há mais de vinte países africanos, o Canadá (Quebeque), apesar de haver países árabes, colonizados pela França, que não adotaram o francês como língua oficial.
Portugal, enquanto império colonial, defendeu a unidade administrativa e política das suas colónias, atendendo apenas à sua descontinuidade geográfica, o que se repercutiu no número de países gerado pela sua descolonização.
Ao invés do processo de descolonização espanhol na América Latina, que originou uma pulverização nacionalista de vários países, o mesmo não sucedeu com o Brasil, apesar das tentativas no Rio Grande do Sul entre 1835 e 1845 e na então província do Grão-Pará, para bem da unidade brasileira, mas que do ponto de vista estratégico e pela frieza e natural força representativa dos números seria mais benéfico para a língua portuguesa. Não teríamos hoje, porém, um país com a dimensão continental e potencialidades que o Brasil tem.
Há uma acentuada diferença entre o oficial e o real, daí resultando vantagens e desvantagens consoante o contexto, estratégia e perspetiva, com reflexos inerentes à representatividade linguística global dos vários idiomas.
02.04.2021
Joaquim Miguel de Morgado Patrício