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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR


Paisagem Urbana de Gordon Cullen.


“Num mundo de conceitos bem definidos, as estradas destinar-se-iam ao trânsito de pessoas e coisas e os edifícios às relações sociais e de trabalho. Mas como a maioria das pessoas faz exatamente o que lhe convém e quando lhe convém, verifica-se que também o exterior se encontra ocupado para fins sociais e comerciais. A ocupação de determinados espaços ou linhas privilegiadas no exterior, os recintos, pontos focais, paisagens interiores, etc.., são outras tantas formas de apropriação do espaço.” Gordon Cullen, 1971


No livro “Paisagem Urbana” (Architectural Press, 1971) a análise formal do fenómeno urbano é um dos objetivos principais de Gordon Cullen. O fenómeno urbano estabelece-se através do meio ambiente (que é movimento, localização e conteúdo evocados) e da paisagem (que é uma sucessão de revelações dependentes da posição no espaço e advém de uma visão serial, determinada pela presença de imagens existentes e emergentes - imagens que fazem conviver o aqui e o além).


O fenómeno formal -cidade- é unidade geradora, porque existe união entre habitantes e objetos. Segundo Cullen, cidade é uma experiência plástica, um percurso sucessivo onde convergem elementos de compressão e descompressão; onde contrastam espaços amplos com espaços delimitados; onde alternam momentos de tensão e momentos de tranquilidade. O que constitui concretamente a cidade é uma sobreposição constante de estilos e traçados- por isso, a sua morfologia é intrinsecamente diversa.


Cullen deseja descobrir qual a verdadeira essência do planeamento urbano. Será concordância, convencionalismo, equilíbrio, simetria, continuidade?


Considera-se importante a inter-relação e a convergência dos elementos que formam a cidade. Acentua-se sobretudo a ideia de que há núcleos equilibrados e estabilizados e outros não.


A enumeração dos elementos visíveis e invisíveis no território urbano constitui o objetivo primeiro, dos aspetos apresentados no livro. Os elementos visíveis manifestam-se progressivamente através de alinhamentos, agrupamentos, convergências, desníveis, delimitações e geram os elementos invisíveis ou implícitos- ponto focal, linha de força, deflexão, perspetiva grandiosa, velada e delimitada. Cullen insiste que na paisagem urbana, o essencial são as relações entre o aqui e o além e que geram conceptualmente focalizações; desníveis; perspetivas; estreitamentos; e delimitações. Na verdade, o conteúdo urbano tem categorias paisagísticas que se baseiam na gestação de variados pontos de vista. É importante por isso considerarem-se conceitos como justaposição, pormenor, complexidade, contraste, escala e distorção.


Para Cullen, a cidade é, pois o local de reunião de elementos flexíveis, que são dependentes ou não, da vontade humana. A função essencial de uma cidade deve tornar-se evidente na sua estrutura formal- a organização dos seus elementos reflete naturalmente certas linhas de força. Essas forças decorrem de uma combinação de circunstâncias que estiveram na origem da cidade.


A cidade incaracterística falha, no entanto, na relação entre forma e função porque as suas linhas de força se tornaram confusas ou desapareceram.


A cidade é determinada, deste modo, pela estrutura que está dependente de usos e das experiências. Tal estrutura é suscetível de receber várias interpretações. Torna-se, assim, flexível e pode ser influenciada e até mesmo transformada. A base estrutural da cidade soma situações diferentes- é possível desempenharem-se funções diferentes sob circunstâncias variadas.


O ambiente urbano é, então, construído de duas maneiras: pelo senso comum; e por uma lógica baseada na sanidade, na amenidade, na conveniência e na privacidade. Porém Cullen esclarece que é acima de tudo a comunicação entre os edifícios e o espaço que fica entre, que materializa e dá forma à paisagem urbana.

 

Ana Ruepp