SHAKESPEARE NOVAMENTE NO TEATRO EM PORTUGAL
Neste ambiente de retraimento, será oportuno referir as notícias de um espetáculo determinante no Teatro Municipal Mirita Casimiro, a cargo do hoje tradicional mas atual e prestigiado Teatro Experimental de Cascais – TEC. Trata-se então de uma montagem do arquiclássico “Hamlet” a partir do arquiclássico Shakespeare, dirigido por Carlos Avilez: e será então, como dissemos, referir a continuidade desta iniciativa, a centralidade tradicional de cultura urbana inerente e a sobrevivência, digamos assim, do próprio TEC.
Pois de facto vale a pena recordar a tradição histórica do TEC, a sua tradicionalíssima relevância urbana e cultural e a coerência com que motiva a cultura de espetáculo do seu meio.
O TEC vem de há dezenas de anos e mantém a seletividade de repertório e de abordagem de espetáculo. E mais: a direção artística, neste espetáculo mas antes ao longo de décadas, de Carlos Avilez, nome que, insista-se, evoca também dezenas de anos de atuação, concilia-se bem com a exigência tradicional do TEC em si mesmo e da descentralização pública e cultural inerente: pois não é fácil levar à cena o “Hamlet”.
E nesse aspeto, será relevante insistir na qualidade e modernidade cénica e literária de textos e temas desta natureza, mas também, no que diz respeito ao tema agora aqui referido, da relevância que, numa perspetiva de história do espetáculo, gerou a criação do próprio TEC.
Precisamente, na “História do Teatro Português” que publiquei há exatos 20 anos, faço uma referência ao Teatro Experimental de Cascais e a Carlos Avilez, exemplo do que aí cito no âmbito de uma ação global de modernidade que refiro, insiste-se, como exemplo, e da transformação de grupos e companhias independentes e experimentais em projetos estáveis, sólidos e consistentes de profissionalismo de exigência cultural.
Avilez é referido precisamente na sua ligação ao Teatro Experimental de Cascais. E como bem sabemos, o “Hamlet” de Shakespeare concilia a indiscutível qualidade cénica e literária com uma também indiscutível atualidade temática.
E cita-se agora a opinião de Luiz Francisco Rebello, designadamente no seu livro intitulado “100 Anos de Teatro Português (1880-1980)”, onde efetua uma análise relevante, pela autoria em si, mas também pela apreciação crítica da atividade. Designadamente, escreve que os espetáculos criados por Avilez foram “quase sempre discutíveis mas nunca indiferentes”, o que em rigor constitui um elogio, concorde-se ou não com o respetivo conteúdo crítico.
E acrescentamos: não confundir esse livro acima citado com a “Breve História do Teatro Português” também de Rebello.
Finalmente, importa insistir na dimensão de pesquisa criacional de Luis Francisco Rebello: e as duas expressões, neste caso concreto, completam-se. Basta ter presente a vasta dramaturgia e também a vasta literacia, sendo a primeira sobretudo concentrada na dupla área de criação dramatúrgica e de pesquisa da História do Teatro, sendo certo que as duas dimensões se completam e são coerentes entre si…
E mais: nascido em 1924, Luiz Francisco Rebello surge em 1946 ligado à fundação do Teatro Estúdio do Salitre e em 1947 estreou a sua primeira peça conhecida, “O Mundo Começou às 5 e 47”.
E foram imensas as atividades ligadas à criação ou à gestão do mundo teatral…
A elas voltaremos.
DUARTE IVO CRUZ