UMBERTO ECO E CARLO MARIA MARTINI (III)
Em Que Crê Quem não crê?
(Um livro acalorado e nós)
A coragem é muito notável se com ela examinarmos coisas simples e reconhecermos depois que ainda as não entendemos.
Refletir sobre estas coisas simples sem nos desinteressarmos do passado e dos seus erros ajuda-nos à interpretação humilde do que deixamos atras e do que connosco irá até ao futuro.
Mas vivermos sempre abraçado aos erros é como procurarmo-nos insistentemente distantes de nós, incapazes de descortinarmos qual a razão que nos leva a não abandonarmos o que afinal afirmamos rejeitar e que se encontra, absurdamente, ainda por abrir.
Parece-nos que para iniciarmos um entendimento dos tempos do conhecer em nós, necessitamos que a inteligência tenha uma responsável escolha, desde logo, aceitando que a coragem não é uma espera de um fim humilde com manto de elite.
Para tanto, há que ter piedade nas perguntas; há que ter piedade na suposta consensualidade e mesmo nas denúncias; no julgar; no crer.
Para tanto, há que ter coragem! Coragem para que saibamos discernir quais os valores com os quais estamos totalmente de acordo sem nos alongarmos.
Coragem! para que se conheçam muitas das fronteiras minúsculas do não consenso e ainda assim, aceitar que isso bastará.
Todos, afinal todos, temos de ir um tantito mais longe, sem receio algum dos paradoxos, ou neles não coubesse também um gérmen de verdade.
Enfim, temos de ter coragem para considerar que o acreditar origina equívocos, e que os devemos confrontar na perspetiva do que se espera.
Teresa Bracinha Vieira