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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICAS PLURICULTURAIS

 

75. BELEZA E ARTE


Uma pessoa comum, da rua, associa a arte com a beleza.
Mas a arte não é necessariamente bela, nem a beleza necessariamente arte. 
A beleza é mais objetiva, a arte mais subjetiva.
A beleza biológica, por exemplo, é tida como universal, havendo estudos que provam que homens, mulheres e crianças muito, muito bonitos, o são em qualquer lugar, de Portugal à Austrália, passando pelo Japão, China, África e Américas.
O mesmo não sucede com pessoas normais, onde há discordância.  
Também a beleza artificial (fabricada) não é tida como universal.   
A beleza é, desde sempre, uma aspiração humana, é apelativa e sedutora. 
Na arte uma coisa feia pode ser uma bela representação.  
O que é feio na natureza pode ser artisticamente belo. 
O belo ou a beleza, na arte, não é a representação de uma coisa bela, mas sim uma bela representação de uma coisa, ao invés da arte clássica grega que fazia o culto da beleza, do equilíbrio, da perfeição, do absoluto, de representações anatómicas harmoniosas e proporcionalmente adequadas e sedutoras.  
Foi Marcel Duchamp que cortou a ligação entre arte e beleza, ao levar um urinol (Fonte) para uma exposição em Nova Iorque, em 1917, transformando-o numa escultura ready-made, demonstrando que qualquer objeto pode ser uma obra de arte e estar ao alcance de todos, sendo a negação de uma estética objetiva da arte em benefício de uma atitude criativa. 
Ao defender que a obra de arte devia ser desfigurada, desumanizada, dessacralizada, Duchamp colocou uma barbicha à Gioconda, tornando-a homem e desconsagrando um ícone pintado por um génio (Leonardo da Vinci), sendo a sua Mona Lisa uma negação de uma obra prima.   
Beleza e arte não são, de todo, a mesma coisa, embora possam coincidir, e quando coincidem, todos as perseguimos, porque nos ajudam a estabilizar as coisas e o mundo, a classificar e equilibrar em adequação e tranquilidade a nossa mundividência.

 

21.05.2021
Joaquim Miguel de Morgado Patrício