AINDA O TEATRO DE ALFREDO CORTEZ
Na semana passada fizemos uma evocação do centenário da “Zilda”, primeira peça de Alfredo Cortez. E aí se referiu com destaque a heterogeneidade da vasta obra deste dramaturgo que de certo modo marca, inclusive por essa mesma heterogeneidade, a caracterização do teatro português ao longo do século, desde a “Zilda”, datada exatamente de 1920, até à “Moema”, escrita cerca de 20 anos depois: e isto, sem desenvolver referências a mais peças e a mais intervenções cénico-literárias deste autor, insista-se, referencial da modernização heterogénea do teatro da época.
Recorde-se aliás que a “Zilda” data exatamente de 1921. E a partir dessa excelente peça, prossegue toda uma dramaturgia que, como já vimos, cobre a vasta variedade estilística que marca o teatro contemporâneo de qualidade…
Ora será então oportuno evocar a análise que lhe dedica Luiz Francisco Rebello na “História do Teatro Português” ou no estudo intitulado “100 Anos de Teatro Português”, pois trata-se de obras referenciais, não obstante a expressão sintética do estudo em si mesmo.
Mas nada disso obsta a uma interessante visão do teatro de Cortez, devidamente enquadrado na vastidão e heterogeneidade da sua obra, que aqui já temos aliás referido.
E no que me diz respeito, tenho, da mesma forma, dedicado à obra de Alfredo Cortez numerosos e vastos estudos, aqui também frequentemente referidos.
Mas cito então agora, designadamente Rebello, que nos “100 Anos de Teatro Português” escreve:
“Figura cimeira da dramaturgia portuguesa no período balizado pelas guerras de 14-18 e 39-45, a sua obra, de expressão rigorosa e linear, quase ascética, acusa um perfeito domínio da técnica teatral, uma análise impiedosa dos costumes da sociedade sua contemporânea e uma profunda compreensão anímica do povo português”.
E, da mesma forma, fazemos agora uma vasta transcrição do livro intitulado “O Teatro e a sua História” da autoria de Tomaz Ribas: e tenha-se então presente que Ribas comporta um memorial de intervenções diretas nas artes do espetáculo. Essa circunstância não é despicienda: pois está-se perante um crítico que na sua atividade profissional atuou diretamente e durante anos nas artes do espetáculo…
Pois acerca de Alfredo Cortez, escreve então Ribas em “O Teatro e a sua História”, livro evocativo do centenário do autor:
“Alfredo Cortez (1880-1946), com as suas nítidas influências ibsenianas e perandellianas, o seu pendor crítico e um não dissimulado gosto por temas de inspiração folclórica, é um excelente dramaturgo, sem dúvida um dos nossos maiores dramaturgos de todos os tempos e até, entre nós, um autor muito original e inovador; por outro lado, é um dramaturgo que ao longo das suas doze peças, saltita e percorre vários géneros: o drama psicológico, o teatro apologético, o teatro histórico, a comédia e o drama de crítica social e o teatro de inspiração folclórica. A sua obra geral apresenta-se numa equilibrada sequência cronológica de temas… de temas correspondentes às suas várias experiências ideológicas”.
Cita as peças. E acrescenta:
“Muito curioso e valioso é o domínio que Alfredo Cortez tem do linguajar popular” referindo muito concretamente “Saias” e “Tá-Mar”.
Em suma:
O teatro de Alfredo Cortez merece ser revisitado: o que, tendo em vista a natureza específica da obra teatral, a expressão correta será outra: o teatro de Alfredo Cortez merece ser reencenado!...
DUARTE IVO CRUZ