UMBERTO ECO E CARLO MARIA MARTINI (VI)
Em Que Crê Quem não crê?
(Um livro acalorado e nós)
Existe em nós um estímulo suficientemente luz para nos dar coragem à escolha humana deliberada?
E esse estímulo-luz é a procura da paz que ansiamos a fim de nos perdoarmos por não termos inscrito em nós este desígnio?
Ou antes, ele é a busca de uma religiosidade substantiva, realidade que segura a condição do que é mortal?
Ou ainda e para que nos baste face à lucidez de nos desgostarmos de nós, o estimulo-luz é Deus e deuses, mistérios e milagrosos rezares que abraçam imensamente o coração de quem não crê e de quem crê, e no abraço, a razão da tolerância ao princípio do terreno-conflito comum a todos.
De jeito atrevido diríamos que toda a realidade envolve uma verdade que carece de estabilidade, seja ela o mal que nunca deixa de ser mal ou o bem da boa-fé.
Seja ela o nenhum fundamento da morte ou o entendê-la pela antecipação inegável que há no intuir.
Por aqui também passou o nosso refletir na leitura deste livro e tão pouco foi.
Não será, porventura, da responsabilidade da relativização do pensamento, a consequência dos caminhos múltiplos, nem a sua permanente tentação.
E o diálogo, sempre diálogo a que é intrínseca a ideia de medida.
Os homens identificam normas adequadas à qualidade de vida. É uma conceção moral, é uma linguagem que deve ter em conta as mudanças, é uma linguagem onde nunca caberão as mudanças inegociáveis, as prioritárias no sistema da prudência das hierarquias.
Afinal aquilo que se partilha é sempre o princípio da possibilidade.
Teresa Bracinha Vieira