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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR


Os espaços urbanos que ficam entre, de Aldo van Eyck.


A partir de 1947, o arquiteto Aldo van Eyck desenhou para a cidade de Amsterdão centenas de parques infantis. Estes parques constituíram elementos essenciais que ajudaram a curar e a coser bocados da cidade. Através de um interminável e variado vocabulário de estruturas para trepar, caixas de areia, barras, bancos, árvores e pavimentos, van Eyck foi capaz de resgatar espaços urbanos esquecidos, vazios, negativos, que restavam e que ficavam à margem.


Cada projeto era singular e de facto apresentava sempre uma particularidade, mas em comum tinham sempre a vontade de ligar espaços diversos e de serem bocados públicos que ficam entre.


van Eyck sempre mostrou interesse por espaços que requerem uma interação mais ativa por parte do utilizador e os parques infantis podem ser esses espaços de interpretação aberta. van Eyck, sem dúvida sugere utilizações, mas são as crianças (e também os adultos) que acabam por descobrir, definir e decidir qual o melhor modo de dar forma àquele espaço. A partir destes projetos van Eyck, embora aceitasse o uso de sistemas racionais, conseguiu construir uma posição informada e crítica em relação ao funcionalismo moderno mais rígido.


van Eyck repetidamente questionou o pensamento polarizado moderno, que separa, que divide, que compartimentaliza e que pode destruir a vida - o individual e o coletivo; a arquitetura e o urbanismo; a parte e o todo; a unidade e a diversidade.


“The time has come to conceive of architecture urbanistically and of urbanism architecturally (this makes sensible nonsense of both terms), i.e. to arrive at the singular through plurality, and vice versa. (…) I came to the conclusion that whatever space and time mean, place and occasion mean more, for space in the image of man is place, and time in the image of man is occasion.” van Eyck (Jones & Canniffe 2007, 38)


Para van Eyck, o ser humano é simultaneamente o sujeito e o objeto da arquitetura. O lugar e o momento implicam participação ativa e real naquilo que é, naquilo que existe agora. A não existência de lugar - e também de momento - causa perda de identidade, isolamento e ruína. Por isso, para van Eyck, tanto a casa como a cidade devem ser uma aglomeração de lugares que permitam a existência de momentos e significados distintos - talvez por isso van Eyck sempre dê muita importância aos elementos de transição, que marcam entradas e limiares e muitas vezes ao desenhar espaços comunitários e de encontro prefira o uso do círculo.


A seu ver, existe uma inevitável e necessária ligação entre todos os elementos do mundo - a casa, a cidade e o universo. Para van Eyck, são as estruturas do conhecimento humano e das muitas manifestações culturais do mundo inteiro que devem sustentar a forma da arquitetura moderna.


“Architecture is a constant rediscovering of constant human proportions translated into space. Man is always and everywhere essentially the same. (…) Modern architects have been harping continually on what is different in our time to such an extent even that it has lost touch with what is not different, with what is always essentially the same.” van Eyck (Jones & Canniffe 2007, 45)

 

Ana Ruepp