CRÓNICA DA CULTURA
A sabedoria da quietude
Para lá da ansiedade do devir, para lá das falas dos profetas, para lá das contradições da condição humana, para lá das irremediáveis inquietudes, existe a foz de um rio no começo do mar.
Lá, os nossos sentires molham os pés, as mãos unem-se em jeito de rédea, o ritmo do que nos cerca absorve o verso, e este surge lábil e compromete-se com as aves.
Dali veem-se os olhos dos veados tão ágeis quanto os sonhos e a segunda pessoa do imperativo desafia-nos num tranquilo «Olhai».
Todos os símbolos do horizonte são Jerusalém.
Mallarmé, na pele daquela água, deixou um tecido bordado no qual se lê: «Donner un sens plus pur aux mots de la tribu».
E porque a morte também morre, estreamo-nos na sabedoria da quietude, conciliando, inovadoramente, os sinais dos tempos que nos couberam numa libertadora lição.
Teresa Bracinha Vieira