CRÓNICA DA CULTURA
Christine Borland
Rigor evocativo
Ouço dizer que também existem muitos sinais de sementes que iniciaram a viagem ajudadas pelo sopro da terra.
Desconheço o caminho que levaram e onde acampam bem como o descaramento com que são recebidas nos locais de descanso.
Soube que uma semente fêmea foi raptada para negociatas debaixo de uma árvore que secou.
Também escutei que um legista terá escrito na sua douta tábua, as consequências da ideia da partida das sementes, o seu perder automático de filiações e heranças de mérito e demais punições de ajuste.
Uma estrela tingida chegou a descer, e na qualidade de médica, plantou um tantito de semente num vaso, mas não regou.
Começaram então as sementes a deixar ovos sob a terra como as tartarugas, descurando que o homem do bastão de marfim, usava-o para o espetar no chão e com uma guita de aço prendia qualquer ser que abalasse do seu controlado cemitério.
Mas, não é que não obstante as emboscadas, o sofrer imposto pelos saqueadores das esperanças, os falsos e velhacos desfiladeiros, os conluios, os currais de mudas vazios, não é que os caminhos se abriram e se distribuíram num repente pois os pensamentos das sementes eram todos navegadores incansáveis.
O fumo dos homens por todo o lado…só fumo.
O pão, aquele que nos dá todas as feições vivas, tornou-se o agricultor das nossas sandálias saciadas.
Assim, natural e elaborado como a fuga das sementes.
Teresa Bracinha Vieira