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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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NOVA EVOCAÇÃO DE MÁRIO BRAGA


A imprensa especializada fez recente evocação de Mário Braga (1921-2016) a propósito da sua obra e da atuação como jornalista e escritor. E assinalou-se também o desempenho de funções de direção em entidades ligadas à cultura e a bibliotecas de relevo. Da mesma forma também o Centro Nacional de Cultura evocou o centenário de Mário Braga num conjunto de artigos em que colaboramos com uma evocação centrada na criação dramatúrgica.

Importa então referir novamente a sua obra literária, designadamente no que envolveu de criatividade. Sendo de salientar a heterogeneidade dessa obra em si mesma considerada e a conciliação, digamos assim, com o exercício de funções diversas e relevantes.

Foi professor, foi dirigente de entidades culturais e literárias em si mesmas, no ensino superior, na Fundação Calouste Gulbenkian, em universidades e em numerosas entidades ligadas ao ensino e à gestão da cultura. E desenvolveu obra relevante como escritor e como dirigente de entidades de projeção e prestígio. Escreveu dezenas de obras, entre criatividade e análise histórica e literária, alem de desempenhar funções de relevo em si mesmas consideradas.

No que respeita ao teatro, que agora aqui nos ocupa, foram evocadas três peças: “O Pedido”, “A Ponte Sobre a Vida” e “Café Amargo”. “O Pedido” e “Café Amargo” são comédias breves, “A Ponte Sobre a Vida” é uma peça de maior conteúdo estilístico. Em qualquer caso, as três obras em si mesmas revelam um sentido dramático relevante.

E transcrevo o que publiquei no “História do Teatro Português” sobre estas três peças:

«Mário Braga escreveu em 1949 uma comédia em ato único, “O Pedido”, passada “numa sala de estar moderna” no final da guerra: irónica e engraçada, sem outras pretensões, numa cena de filha de pai rico apaixonada por um poeta; rompe-se o noivado quando se percebe que nem ao menos uma mesada garantirá “o futuro de Raul, a sua obra...” Em 1966, o autor escreveria outra comédia breve, “Café Amargo”. Mas a peça mais significativa e mais próxima do neo-realismo é “Ponte sobre a Vida” (1964) adaptação do conto do autor “Corpo Ausente”. Num ambiente bem retratado de cidade de província da época, a morte de Luís, num desastre de automóvel, precipita o irmão, José Alberto, e a cunhada, Gabriela, numa amarga meditação precisamente sobre a morte que Luís, romancista de sucesso, já vinha desenvolvendo. O comércio, a burocracia e o ritual das cerimónias fúnebres acentuam a profunda frustração existencial do romancista, que só sai dela para preencher a ação política, clandestina e arriscada, que o acidente interrompe». (in ob. cit. págs. 271-272).

Relemos agora estas peças e pesquisaremos eventuais outras peças de Mário Braga. E remetemos para o que já antes aqui se escreveu.

 

DUARTE IVO CRUZ