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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

ABDULRAZAK GURNAH, PRÉMIO NOBEL DE LITERATURA 2021

A temática dos refugiados é a base do seu trabalho

 

Segundo a Academia, o prémio foi concedido "por sua penetração intransigente e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino do refugiado no abismo entre culturas e continentes."

  

Deste escritor tanzaniano ainda só li este livro By the sea.

Ficou-me sonoro na alma o que se possa entender por um requerente de asilo. Por um requerente de paraíso que há-de encher até fazer transbordar o saco que desde Zanzibar leva às costas e no qual também transporta um pouco de incenso: sua posse mais preciosa.

Depois uma história de amor e traição, de sedução e de desvendamento, de luz e névoa, angústia e medo e nunca, nunca a rota da trégua no caminho do refugiar.

Bem-haja quem denuncia estrada tão amarga, tão poço junto à boca: tão no ventre dos nossos dias.

 

Teresa Bracinha Vieira 

PARA QUEM AMA LER COM IMAGINAÇÃO

umberto eco.png


É sempre dificílimo escrever sobre os livros de excelência.

Só devagar, muito devagar nos chega a coragem para que não fique por dar o reconhecimento às coisas da beleza, da memória, do entendimento e do horizonte.

E que as palavras consigam deixar um perfume, uma exaltação, um convite inequívoco a infinitos pormenores.

EUGENIO CARMI.jpgEUGENIO CARMI

Pintor, autodefine-se «fabricante de imagens».

Com Umberto Eco, tornou-se ilustrador.

 

umberto eco _ foto.jpgUMBERTO ECO


Filósofo, medievalista, semiólogo e escritor, autodefine-se «fabricante de palavras».
Com Eugenio Carmi tornou-se fabulista.


Neste livro, a linguagem apoiada por belíssimas ilustrações, propõe o convite para refletirmos sobre a tolerância na resolução dos conflitos, no legado às gerações futuras, nas consequências do ódio e do consumo e da incapacidade dos afetos se gerarem e multiplicarem com devoção e força.

Para tanto as entrelinhas da pintura e das palavras.

A ironia e o sarcasmo estão presentes como arestas indispensáveis ao que se invoca.

E era uma vez um general a quem os átomos faziam frente impedindo-lhe a decisão das guerras, a desarmonia das mães, das arvores e das casinhas brancas, conhecedores que eram da loucura dos buracos negros.

O general carregava na farda inúmeros galões o que muito acabou por ajudar ao seu novo emprego como porteiro de hotel. Por agora.

E era uma vez a Terra e Marte.

A Terra, demasiado apertada queria conquistar Marte e enviou cosmonautas.

Eram eles um americano, um russo e um chinês que afinal se entenderam quando o americano disse: - Mommy…

O russo disse: - Mama.

O chinês disse: - -Ma-Ma.

Viviam, enfim, os mesmos sentimentos!

Contudo quando conheceram o marciano dos seis braços não foram capazes de o amar, não fosse a intervenção de um passarinho que de muitos modos e só um, afinal, fez a todos concluir que a diferença não é inimiga.

E era uma vez um imperador que, desesperado, enviou um explorador para o espaço a fim descobrir novos territórios.

Este, tão logo viu um, muito belo e de gente prazenteira, dirigiu-se-lhes dizendo que vinha para os descobrir.

Os gnomos, habitantes deste planeta lindo, surpreenderam-se e responderam que estavam convencidos de terem sido eles a descobrir o explorador.

Na verdade, o explorador não gostou do que ouviu já que lhe tinham ensinado que tão logo se levasse civilização, os indígenas adotavam-na sem qualquer protesto.

Estava-se à vontade.

De regresso à terra do imperador, as forças falaram em voz pasma …

três contos de umberto eco.jpg

 

Julgamos que estamos confusos?, ou, quem vence, vence, bem mais na mente dos homens do que nos campos de batalha e a sorte do mundo e a dos povos é a que for a do destino das mentalidades.

Permiti que o digamos assim.

E, em rigor, o estar como se está por entre os terráqueos é como o aceitar de uma nova religião que se propaga e desfigura como a lepra.

Ouviu-se.

E mais:

Condenaram-se os homens aos seus desígnios de escravos, condenação esta tão compatível quanto assertiva pois a maioria aceitou-a.

Ergueram-se pedras, muros contra muitos saberes antigos como se fossem mercadoria impróprias, não vá o saber, neles, ser um saber do ar fresco da vida.

E eis que nem todas as mensagens oxidam. Eis que o inabitual não encandeia.

Eugenio Carmi e Umberto Eco, duas almas-ave ,deixaram-nos este livro qual ajudante-de-campo aos dias até onde e aonde luz e mundo nos permitam antes da partida desvendar o porquê de aqui estar, e qual o nosso destino.

Teresa Bracinha Vieira