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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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MEDITANDO E PENSANDO PORTUGAL

 

28. OPÇÃO ATLÂNTICA E EUROPEIA (III)


Quanto à adesão à Comunidade Europeia, Portugal teve de optar pela democracia, anuência que lhe foi retardada para que pudesse entrar juntamente com Espanha, o que prova que do lado marítimo Portugal tem prioridade, havendo países que têm como do seu interesse a preservação da individualidade portuguesa, sendo Espanha vista como um país essencialmente continental, mais próximo da Europa.     


É nesta perspetiva que melhor se compreende a oposição de muitos a que Madrid se torne o centro radial da Península Ibérica.   


Eis algumas palavras de Henrique Neto, em artigo de opinião: 


“Quanto ao TGV, basta olhar para o traçado imposto por Espanha (…), para compreender a estratégia espanhola: criar uma radial napoleónica, que faça de Madrid o centro da Península Ibérica, ligando esta capital às cidades provinciais de Barcelona, Sevilha, Bilbau, Lisboa, Porto e, como vamos ver no futuro, à Corunha.  Que estratégia mais clara poderá ser desenhada do que ligar Lisboa a Madrid, antes de ligar Lisboa ao Porto, ou fazer com que o caminho-de-ferro de Lisboa para a Europa nos leve a Badajoz, a Cáceres, a Madrid, a Tarragona e a Barcelona - um autêntico passeio ibérico - antes de entrar em França pelo Sul? Os nossos antepassados, que nos ligaram por comboio diretamente a Paris, sem passar por Madrid, devem dar voltas no túmulo, ao mesmo tempo que os turistas do Norte da Europa não deixarão de considerar castiça a ideia de os fazer passar pela Costa Azul e pela Costa Brava, na sua problemática viagem para Lisboa.     


A estratégia correta passaria por dar prioridade absoluta ao TGV em território nacional, ligando a Corunha a Sevilha, ao longo da costa portuguesa e ao aeroporto da Ota. Esta estratégia corresponde ao objetivo de valorizar (…) a maior concentração humana da Península Ibérica e tornar Lisboa o centro natural desse espaço, que tem o mar e a dimensão atlântica com a sua vantagem competitiva”.   


Acrescenta-se que a saída por San Sebastian ainda vai demorar duas décadas, se realizável, acentuando Madrid a sua força centrípta na Península, obrigando todas as regiões de Espanha e Portugal a prestar-lhe vassalagem.   


Daí que, como alternativa à cada vez maior dependência dos corredores rodoviários e ferroviários de ligação a Espanha e à Europa, se fale no transporte marítimo e aéreo com a mais ampla diversificação de itinerários e dependências, via reconversão e adaptação (marítima) e como rótula de articulação intercontinental aérea com a Europa, nomeadamente via países da América Latina e África, caso dos mercados brasileiro, venezuelano e PALOP.


Todavia, a propósito de Portugal e Espanha, Boaventura Sousa Santos, depois de ter Portugal como uma sociedade periférica e não ser previsível que num futuro próximo seja promovido ao centro do sistema ou despromovido para a sua periferia, tendo como mais provável que a sua posição intermédia se consolide em novas bases, fala em que o “federalismo ibérico” está em curso, não por via de renascidas crenças em hispanidades míticas, decorrendo, sobretudo, da atuação das grandes multinacionais, ao estabelecerem as suas sedes em Madrid ou Barcelona tomando como um todo e unidade de ação a Península Ibérica, pelo que, na sua ótica, os sinais de despromoção são mais fortes que os de promoção.   


Para outros, como Loureiro dos Santos, numa Europa das regiões extensiva à Península Ibérica, as condições são-nos mais favoráveis que a Madrid, pois enquanto este tenderá a perder poder político por força da artificialidade de tal centro, surgido apenas por motivos político-estratégicos, pois os grandes centros periféricos, onde a Península produz riqueza, tendem a ser polos de competição; nós poderemos aumentá-lo em face dessa fragmentação, com a vantagem de sermos um país coeso, de forte unidade e identidade nacional, atraído pelo mar e a mais populosa região ibérica.


Resta sempre uma vontade elucidada e firme que nos tem defendido, mesmo que se tenha como adversa e perigosa, em termos ibéricos, uma só fronteira e a nossa posição geográfica.  
     

22.10.21
Joaquim Miguel de Morgado Patrício