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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

MEDITANDO E PENSANDO PORTUGAL

 

34. PRAXES


Estudantes de capas pretas desfilam em cortejos chamativos, ruidosos e cinzentos, coagindo e humilhando iniciandos que nos anos seguintes o farão a outros, numa sucessão temporal de décadas.    


Uns são a favor. Outros, contra. Há quem relativize.


É um ritual passageiro que faz parte da juventude, num grupo de ignorantes intolerantes, ou de todos fomos assim, consoante a opinião.  


Os que praxam e os que são praxados, na maioria estudantes universitários, serão as futuras elites do país, que fazem o culto da subordinação, humilhação e sofrimento como valor essencial, valorizando relações hierárquicas. 


Uma causa de exclusão da ilicitude, um costume consuetudinariamente reconhecido.


Estranha-se que os que são alvo de violência e de violações de direitos humanos o permitam, submetendo-se e sujeitando-se.  


Há, infelizmente, condições estruturais e sistémicas para tais submissões, que beneficiam uma cultura reverencial pelo poder, paternalista, paroquial, de ausência de escrutínio e de sentido crítico.  


A que acresce a possibilidade de os que foram praxados poderem, mais tarde, puxar dos galões e praxar os novos “caloiros”, compensando-se e perpetuando uma tradição de práticas desadequadas num país que se quer civilizado.


Por que não, em alternativa, atividades, eventos, cortejos, festivais culturais e desportivos, sem o aviltamento e sevícias das praxes?   


A vontade de praxar e ser praxado, de a praticar e aceitar, dando azo a exibicionismos e obscenidades barbaras e censuráveis, é um sintoma deprimente da nossa atual juventude, com reflexos de caraterísticas de permanência traduzidas numa forma atávica do nosso atraso como sociedade, por maioria de razão vinda duma geração universitária geradora de elites.  


03.12.21
Joaquim Miguel de Morgado Patrício