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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A VIDA DOS LIVROS

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   De 13 a 19 de dezembro de 2021

 

“Catedral e Museu Diocesano de Santarém” é uma obra coordenada pelo Padre Joaquim Ganhão, na qual se apresenta não apenas um rigoroso levantamento do património artístico da Sé Catedral de Santarém, mas igualmente um inventário precioso do Museu Diocesano de Santarém.

 

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OS BENS CULTURAIS RELIGIOSOS

Importa recordar que a Comissão Pontifícia para os Bens Culturais da Igreja considera os Museus Eclesiásticos e a Arte Sacra como fatores de aprofundamento da espiritualidade e da fé. Nesse sentido “a Igreja deve evitar o perigo do abandono, da dispersão e da devolução das peças (…), instituindo quando for necessário, ‘depósitos dos museus’ que possam garantir a conservação e fruição no âmbito eclesial. As peças de menor importância artística também testemunham no tempo o empenho das comunidades que as produziram e podem esclarecer a identidade das comunidades atuais. (…) De qualquer modo, é indispensável que as obras conservadas nos museus e nos depósitos eclesiásticos permaneçam em contacto direto com as obras que ainda se encontram em uso nas diversas instituições da Igreja” (Carta Circular, 2001). Nesta linha integra-se o projeto da requalificação da Sé Catedral de Santarém que teve a sua génese em 2011 aquando das comemorações dos 300 anos da edificação do templo, no âmbito da Rota das Catedrais, com consequente abertura do Museu, que passou a constituir uma referência fundamental no património cultural português. Em resultado dessa relevante intervenção foram atribuídos dois importantes prémios à intervenção: pela Fundação Calouste Gulbenkian, o Prémio Vilalva (2014) e pela Europa Nostra, o Prémio Europeu do Património Cultural (2016). No livro “Catedral e Museu…” reúne-se uma dezena de  estudos históricos e artísticos sobre o edifício do antigo Colégio Jesuíta, contando com contributos de especialistas reconhecidos, como: Miguel Soromenho, João Cabeleira, Maria João Pereira Coutinho, Sílvia Ferreira e Maria Alexandra Gago da Câmara. Saliente-se a coordenação técnica de Eva Raquel Neves – sob a dinâmica direção do Padre Joaquim Ganhão, sob o impulso de D. José Traquina.

 

UMA HISTÓRIA MUITO RICA

A atual Sé Catedral foi construída sobre o antigo Paço Real na Alcáçova Nova, oferecido pelo rei D. João IV, em 1647, para construção do Colégio Jesuíta de Nossa Senhora da Conceição, que teria a traça dos Arquitetos Mateus Couto, tio e sobrinho. Depois da extinção da Companhia de Jesus, a Igreja e edifício viriam a albergar sucessivamente Seminário, Liceu Sá da Bandeira e até Tribunal. O monumento que chegou aos nossos dias e que agora surge em todo o seu esplendor, singulariza-se pela grandeza, equilíbrio e harmonia da fachada, pelos notáveis tetos pintados na nave e capela-mor, pelo retábulo desta com embutidos de pedraria polícroma, pelos ricos altares laterais de talha dourada e pelos mármores da Capela de Nossa Senhora da Boa Morte de João António Bellini de Pádua. Merecem ainda referência os diversos painéis de azulejos e os retábulos em estuque de Francesco Marca. A monografia sobre a Catedral é completada por um estudo das coleções do Museu Diocesano, com cerca de 150 peças, reunindo o contributo de cerca de 50 especialistas dos principais museus nacionais e das Universidades. O conjunto de peças que foi possível reunir demonstra a tomada de consciência sobre a riqueza das paróquias da diocese – permitindo-se um esforço comum de conhecimento, valorização e preservação de acervos de grande qualidade, numa região com uma extraordinária riqueza no tocante ao património cultural, histórico e artítico. Pode, pois, dizer-se que esta ação coordenada concretiza o cumprimento escrupuloso da Convenção de Faro, do Conselho da Europa sobre o valor do Património Cultural na Sociedade Contemporânea (assinada em 2005). De facto, há uma apreciável ligação entre património material e imaterial, bem como o reconhecimento pela sociedade do valor da criação cultural e artística.

 

LEMBRAR UM TRABALHO LONGO

Saliente-se o importante texto de Pedro Canavarro, no qual nos dá conta da grande persistência que foi necessário ter para se chegar ao ponto em que nos encontramos e os desafios que continuam presentes. Houve inicialmente receios e resistências, mas finalmente foi possível encontrar reconhecimento da riqueza do património escalabitano, designadamente na exposição “Encontros de Cultura – oito séculos de missionação” em S. Vicente de Fora com a apresentação da coleção de objetos sacros e não só, em prata indiana do século XIX provenientes do património de D. António Pedro da Costa, Bispo de Damão e Arcebispo ad honorem de Cranganor, além do conjunto de peças da Diocese de Santarém de sacras, galhetas, uma bacia com gomil e caldeirinha com hissope… Graças aos Bispos D. Manuel Pelino e D. José Traquina foi possível chegar ao ponto atual, ficando-nos do Sermão da Sexagésima do Padre António Vieira a magnífica expressão: “Para um Homem se ver a si mesmo são necessárias três coisas – olhos, espelho e luz” – é exatamente o que encontramos neste trabalho extraordinário.

 

Guilherme d'Oliveira Martins
Oiça aqui as minhas sugestões – Ensaio Geral, Rádio Renascença