CRÓNICA DA CULTURA
2022
As coisas da condição humana continuam a ser coisas simples, verdades antigas como a necessidade de entender o mundo, a procura da origem, a raiz dos fenómenos e dos sentires.
Poder falar destas realidades, é domínio de quem com extrema sabedoria, consegue a simplicidade de as dizer.
Descuidam – ou não?- as gentes, no atribuir-se si mesmas utilidades com tamanha facilidade e jeito tão atreito ao seu milímetro, que explicam com aptidão o sucesso dos maus canais televisivos, bem como os seus viveres reveladores de que sem o tal vil metal, se descarnavam espalmadas as consequências das suas próprias descobertas.
Afinal, quando será que num novo ano, nos congratularemos com a coragem da pergunta sincera que as gentes farão ao seu pensamento, não recuando nas consequências do ato?
Afinal referimo-nos a uma prática de honestidade intelectual que descobre o átomo da mente não serventuário, nem dócil ao embuste em que se vive.
Afinal a condição humana continua a não ser apenas o discurso de lugares-comuns que tudo mostram para que pouco se veja.
Afinal o que está em jogo é a felicidade do homem numa historicidade que os tem dominado belicosamente numa relação de poder e não de sentido como afirmava Michel Foucault.
Cremos que a orientação no mundo, é uma necessidade humana que deve ser bem mais desenvolvida do que aquela que se investe nos ginásios para orientação física.
Vive-se um tempo de universo concentracionário e exposto sem pudor. Nem parece o quanto dele é ainda tabu, viagem, liberdade, coisas de substância da condição humana.
Sugere Drummond
(…)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
(extrato do poema “Receita de Ano Novo”)
Teresa Bracinha Vieira