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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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CRÓNICA DA CULTURA

JON FOSSE

“O destino de um tocador de violino é apenas isso, o destino.”

 

 

Tens frio, diz Asle

Sim, estou encharcada e tenho frio, diz Alida

Asle adormece de pé e Alida agacha-se com o seu enorme ventre, e acha possível, enquanto adormece, dar à luz dentro de horas.

Na rua.

Ambos sentiram o frio, aquele que faz tremer as paredes do fiorde, aquele que trespassa as casas e lhes chega aos olhos para lhes dizer que não há sítio para ficarem. Há frio.

O destino de quem sente frio, é apenas isso, sentir frio.

Na primeira novela desta trilogia, a vigília do frio sobre nós é a que nos surge até dentro da memória, é a que nos explica que o frio não adormece nunca porque há dentro dele um frio e outro e outro, sucessivamente.

Aqui lemos um frio que flui na música e se enrola na caixa do violino de Asle e no enorme ventre de Alida. É um frio de cimento. É um frio que impede o exílio.

E vão bater à porta da casa da frente (…) uma rapariga olha para eles, um pouco incrédula, e quando Asle lhe pergunta se têm um quarto para alugar, ela sorri e diz que para ele, poderão sempre arranjar-lhe um quarto, mas para aquela ali é mais difícil (…) no estado em que se encontra

e continuam a andar.

E o quarto?

Continuam sós.

Nem o frio conta como algo. O frio tomou-os num gole mais forte e há um infinito pó neste frio trazido pelo vento. Um pó que nenhuma persiana segura, e há música, a música é fundamental na união destes dois jovens ao frio.

O seu amor vencerá caso pecado ou morte se envolvam porque o destino de um tocador de violino é apenas isso, o destino, e o destino de quem sente frio, é apenas isso, sentir frio.

O frio esclarecedor desta escrita hipnótica tão poesia quanto prosa arrebata na leitura.

Da nossa contemporaneidade, Jon Fosse é um dos escritores mais celebrados. Foi prémio Literário Do Conselho Nórdico.

Nasceu Jon Fosse no Oeste da Noruega, e vive atualmente numa residência honorária situada nas propriedades do Palácio Real de Oslo, chamada «Grotten», bem como em Hainburg, Áustria, e em Frekhaug, Noruega.

A sua obra extensa está traduzida em mais de quarenta línguas. 

Trilogia, eis um livro que entra como uma pena nos sinais ao nosso pensamento.


Teresa Bracinha Vieira