EVOCAÇÃO DO TEATRO DE JOÃO PEDRO DE ANDRADE
Há exatos 20 anos, tivemos ensejo de evocar o teatro de João Pedro de Andrade (JPA), tendo em vista designadamente a celebração de uma série de conferências então publicadas num volume evocativo do centenário do escritor-dramaturgo. Ocorre que esse centenário, ocorrido pois em 2002, amplamente justificou a série de evocações e celebrações que a própria cronologia justificava: e justifica novamente!...
E isto, porque por um lado a dramaturgia criada por JPA, hoje obviamente algo esquecida, amplamente merece este tipo de relembrança, pela qualidade dramática inerente e também pelo relevo que a criatividade literária do autor envolve: cento certo que em muito JPA transcendeu a criatividade dramatúrgica que aqui novamente se evoca.
E é de referir que a grande divulgação referencial se ficou a dever ao que sobre a sua dramaturgia escreveu José Régio na revista Presença. Mas também é de registar que Régio não hesita em referi-lo como “um autor quase completamente desconhecido como dramaturgo”…
E também serão relevantes as referências que lhe faz Luiz Francisco Rebello em diversas obras. Designadamente nos “100 Anos de Teatro Português (1880-1980)”, refere um total de 15 peças e acrescente ainda referências bibliográficas com destaque para a peça em 1 ato denominada simbolicamente “Continuação da Comédia”.
E faz uma referência abrangente do teatro de João Pedro de Andrade:
“O teatro de J. P. de Andrade (que foi crítico teatral da Seara Nova e em 1963 publicou um notável trabalho sobre a vida e a obra de Raúl Brandão) procura um compromisso entre o empreendimento social e a indagação psicológica, as estruturas cénicas do naturalismo e as consequências formais do modernismo”, assim mesmo…
Seja-me então permitido fazer uma transcrição do que escrevi sobre o teatro de João Pedro de Andrade na “História do Teatro Português”:
Todas as peças conhecidas se erguem a partir de um conflito dialetal verdade-erro, positivo-negativo, bem-mal, que lhes dá fôlego e razão de ser. Mas há que encarar em termos hábeis os polos da questão, pois não estamos aqui perante um simples diálogo de posições opostas. Em “Transviados”, por exemplo, se o erro, o negativo, o mal, perfeitamente enquadram o grupo Raimundo-Gustavo-Rosália, a força “positiva” encontra-se no muito relativo bem de um Jorge-Maria Teresa que só o amor parece redimir.”
Segue uma análise detalhada e vasta do teatro de João Pedro de Andrade.
E faz-se, no final, mais vasta transcrição minha da já citada “História do Teatro Português”.
Considerações como estas não prejudicam o interesse que o conteúdo do teatro de João Pedro de Andrade nos merece. Aí encontramos na verdade uma obra densa, rica, uma apesar da variedade constituída em torno de núcleos polarizantes que a posterior dispersão não logra destruir: nessa medida, pois, forma uma verdadeira dramaturgia.
Todas as peças conhecidas se erguem a partir de um conflito dialetal verdade-erro, positivo-negativo, bem-mal, que lhes dá fôlego e razão de ser. Mas há que encarar em termos hábeis os polos da questão, pois não estamos aqui perante um simples diálogo de posições opostas.
E finalmente: foi com grande gosto e interesse que participei no colóquio sobre o centenário de João Pedro de Andrade organizado por ocasião do centenário do seu nascimento. E é com muito interesse que releio os textos então aí apresentados. A eles voltaremos.
DUARTE IVO CRUZ