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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO

  


LXXXVII - SÍNTESE AO REDOR DA LÍNGUA E DA LUSOFONIA
2. ANÁLISE CRÍTICA DAS CRÍTICAS (II)


Quanto ao argumento da pretensa superioridade da norma culta e literata do português padrão, vários povos se apropriaram voluntariamente da língua portuguesa de modos plurais, imprimindo-lhe a variedade das suas experiências e enriquecendo-a. Este idioma comum foi recriado em cada continente, adaptando-o e integrando-o nas particularidades locais, alterando-lhe o ritmo, modulação, pronúncia, sonoridade, diversificando-se na sua unidade. 

O que a lusofonia deve exprimir (e a CPLP institucionalizar) é essa globalidade de diferentes falares, não excluindo, se necessário, um acordo entre comunidades e países lusófonos, uniformizando o essencial, como no vocabulário técnico-científico. 

Em relação ao contra-ataque cultural de que a lusofonia (e CPLP) tem sido vítima, via celebração prioritária das literaturas portuguesa e brasileira, e só depois das africanas, refira-se que cada vez mais a atual literatura de ex-potências coloniais tem como protagonistas autores de origem africana e asiática. São novos escritores “europeus” usando a literatura como afirmação identitária e modo de interpelar o seu espaço de origem no país onde nasceram ou vivem. Veja-se, entre nós, o escritor Agualusa. Na música Mariza, Sara Tavares, a notória recetividade da música brasileira, a par do pintor moçambicano Roberto Chichorro. O mesmo em França, Inglaterra e Holanda. 

A crítica duma presumível superioridade do português europeu omite que o futuro da   globalização e internacionalização da língua portuguesa será operada maioritariamente de fora da Europa, no essencial a partir do Brasil e em África, mormente de países portadores de caraterísticas a potências emergentes. 

Num certo sentido, o fim do colonialismo transformou os pretéritos colonizadores em territórios “colonizados” pelas anteriores possessões coloniais, sendo estas uma certa continuidade daqueles e algumas delas as novas potências do futuro.    

 

18.02.2022
Joaquim Miguel de Morgado Patrício