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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

CRÓNICA DA CULTURA

Paz é de onde não se necessita fugir.

  


A indiferença no cultivar do diálogo a todos os níveis, começando pelo próprio núcleo familiar, privando o mundo do tempo fundamental para a troca de experiências através das narrativas, permitiu que uma rotina de horrores se instalasse entre os homens, e as guerras fossem seus reinos de viver, vida ou morte.


Esquecem os homens, ou nunca registaram com dolorosa indignação, que os combatentes das guerras, voltam delas mudos porque os campos de batalha geram experiências incomunicáveis.


As experiências a que nos reportamos não são indizíveis, mas foram invivíveis o que é outra realidade que suporta a densidade da mudez.


A violência doméstica é também uma guerra de trincheiras em território ocupado por uma vida miserável.


Permitiu-se, aplaudiu-se mesmo, que bastavam os tratados e as convenções para intimidar os inimigos da paz, e tanto eram suficientes que nos cabia apenas coar o pessimismo que nos causasse incertezas e medos através de ferozes propagandas.


Como? Se jornais e televisões e demais interesses, habilmente promovem anestesias e banalizações que reforçam a invisibilidade dos algozes?


Desentendimentos económicos, religiosos, rivalidades étnicas, divórcios virulentos, entre outras realidades, são em si bombas atómicas de preparo às que respondem como tal.


As guerras tal como se instalam são atos de força bruta que embalam os desenfreados interesses ao colo.


A arte, cremos, só ela, pode transmitir a aproximação à verdade total de um testemunho do sofrer. No entanto, não sendo ela fundamentalista, tem mais dificuldade em expor através da sua liberdade, o caminho de interpretação e esperança de que afinal a vida pode ser outra coisa.


Em rigor, as guerras podem ser enfrentadas pela formação de novas sensibilidades, entre as quais os diálogos, com o condão dessa formação.


Contudo, a nossa humanidade desenraizada é incapaz de sensibilizar os outros, nomeadamente os jovens, de que a bandeira da paz é sinónimo de um amanhã menos sombrio.


Assim, os conflitos geram celeiros de torturas e as gentes cegas são catalisadoras de desumanidades atrozes, as gentes projetam uma indiferença absolutamente condenável que mata o que a vida na esperança mais preza.


Fomos todos responsáveis pela ausência de políticas que salvaguardassem a saúde, o emprego, a casa, o suprir da pobreza, enfim, o evitar destas guerras instaladas, motivadas pelo roubo desenfreado do ar que se respira corrupto e impune de quem o fabrica na paz das guerras.


E afinal paz é ter força para as possíveis harmonias.


Paz é de onde não se necessita fugir.

 

Teresa Bracinha Vieira