CRÓNICAS PLURICULTURAIS
95. PACIFISMO E BELICISMO (I)
A tradição pacifista tem uma verdade essencial, que é o valor da paz.
Só a verdadeira boa vontade, o espírito de tolerância, a crença num estado de coisas melhor para o mundo, através de uma educação consciente podem solucionar os males da guerra.
Para os pacifistas de todos os tempos, ninguém é capaz de justificar moralmente o porquê da guerra, pela simples razão de que não tem justificação.
Anula e contradiz o imperativo primordial da ética “Não matarás”.
A guerra, à semelhança dos genocídios e massacres, não faz parte da natureza humana, nem é espontânea, é organizada e pensada, sendo criada e sustentada por manipulações, propagandas ideológicas e construções políticas.
É um mal absoluto e total.
Para os belicistas a guerra é a única realidade histórica que acompanha, em permanência, o ser humano.
Hobbes tinha-a como inerente à humanidade, como parte necessária do homem, porque o egoísmo e a ferocidade ilimitada é nele natural.
Hegel tem a guerra como inevitável, a violência como o motor da história, sendo o herói hegeliano um guerreiro, tendo como referências históricas Alexandre (o Grande), César e Napoleão.
Os positivistas, os materialistas e os belicistas atuais, defendem que as guerras declaradas pelos Estados não são compreensíveis por remissão para critérios morais, dado tratar-se de um direito (dever) exercido com base no seu interesse soberano e não na sua justificação.
A responsabilidade do cientista é só para com a verdade científica, não para com a verdade moral ou social. Este realismo de matriz hobbesiana, tem a política internacional como uma espécie de estado de natureza em que cada Estado se assume como lobo, numa guerra de egoísmo sem fim.
Eis que surge, então, um embate crescente entre pacifistas e realistas de base hobbesiana.
04.03.22
Joaquim Miguel de Morgado Patrício