CRÓNICA DA CULTURA
A desumanização é a falta de compromisso com o próximo
Art. 1 Declaração Universal dos Direitos Humanos
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
A 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas publicava a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) como resposta às brutalidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial.
A DUDH foi um archote de luz, no foco à dignidade humana.
Constatamos, contudo, o quanto as palavras não atingiram o seu objetivo. O quanto até o simbólico do bem, deixou de ser objeto de alerta.
Para nossa perplexidade, nenhum país signatário se sente absolutamente constrangido face ao incumprir do que na DUDH convencionou.
A atualidade do conteúdo dos termos da DUDH é terrífica e elucidativa de tudo o que permanece em sede de desumanização.
Basta pensarmos na fome que anula qualquer possibilidade de vida digna, e representa uma troça que deveria envergonhar a nossa existência.
A alimentação é elemento basilar da condição humana. Como é possível que uns comam e desperdicem e outros morram na falta de um alimento?
Como é possível que haja um grupo que come e um grupo dos que não comem?
Com ou sem DUDH, ninguém deveria passar fome. A verdade, é que não há quem desconheça que o flagelo da fome acarreta terríveis consequências físicas e psíquicas.
Desapareceu o sentido real dos traços humanos, nesta e noutras guerras.
E como é possível que as autoridades políticas se encontrem num divórcio permanente às realidades do sofrer?
A desumanização é, afinal, algo despido de características humanas.
A desumanização é um processo que impede o ser humano de tudo o que a sua espécie identifica.
A perda de valores éticos e de sensibilidade, tornou as gentes indiferentes à dor dos outros.
Se refletirmos que há umas décadas largas, o ser humano começou a isolar-se para se entregar aos laços virtuais, como não esperar que o seu caminho de agir se tenha tornado numa engrenagem dentro de um sistema?
A falta de compromisso com o próximo, base da desumanização, coloca-nos a questão de saber, como se desumaniza o que é humano sem que se destrua o ser por completo?
A diversidade no mundo, liga-se de modo complementar, tão complementar que a paz e o amor, começam sempre no interior de cada pessoa, e na ligação que cada um é capaz de estabelecer com os outros.
O próprio terrorismo é feito de gente abandonada, de gente mal-amada, de gente para quem o sentido de comunidade em solidariedade é lacunar na consciência do bem.
Só acordaremos para os valores da liberdade e da paz se transmitirmos o respeito pelo outro e por nós mesmos.
Se o grito de humanidade se não ouvir em todos os cantos deste mundo, falar de humanização, será afirmação que não nos faz pessoa.
Em rigor, o sofrer invadiu as almas que, à solta dos seres, se arrepiaram.
Teresa Bracinha Vieira